Instagram censura De Olho nos Ruralistas; página é retirada sem explicações

Atualizado em 9 de novembro de 2021 às 19:15
De Olho nos Ruralista
página foi desativada dois dias após o início de campanha internacional do observatório – Foto: De Olho nos Ruralista

Originalmente publicado no SITE De Olho nos Ruralistas

Por Alceu Luís Castilho e Bruno Stankevicius Bassi

De Olho nos Ruralistas está sob censura do Instagram. O observatório publica há mais de cinco anos reportagens, pesquisas e vídeos sobre o agronegócio e seus impactos sociais e ambientais. A plataforma desativou sumariamente o perfil com quase 25 mil seguidores, nesta quinta-feira (04), sem aviso prévio, nem motivo específico. Um comunicado genérico (e automático) diz que o conteúdo pode ter sido considerado “inoportuno ou abusivo” por outros usuários.

A violência contra um veículo de imprensa ocorre dois dias após o início de uma campanha de divulgação internacional do projeto, intitulada “Brasil em Colapso“, sobre destruições em curso no Brasil — do massacre por Covid-19 ao desmatamento, ambos potencializados pelo governo Bolsonaro. Os últimos posts tinham sido justamente sobre o vídeo. Foram ao ar dois vídeos em inglês e outro em português, com legendas em espanhol, francês, alemão e italiano.

Já sob censura, a equipe do observatório não conseguiu publicar na rede social — comandada desde 2012 por Mark Zuckerberg — informações sobre o ataque ao Acampamento São Vinícius, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Moradores contam que pistoleiros encapuzados atearam fogo nas barracas e espancaram homens e mulheres. A violência contra os povos do campo é um dos temas de destaque do De Olho.

Igualmente não foi possível divulgar no Instagram um perfil da deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR), nome em ascensão da bancada ruralista, que se divide entre a defesa do agronegócio e a exaltação inflamada do presidente. Ela é a principal organizadora da visita que Bolsonaro faz ao Paraná neste fim de semana. A cobertura da bancada e de sua maior expressão institucional, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), é outro destaque do observatório.

Leia também:

1- Pedro Bial vende curso e diz que ele se tornou “autor preferido” dele mesmo

2- “Ativismo”: Ricardo Barros reclama de suspensão do Orçamento Secreto pelo STF

3- VÍDEO – Heleno agora diz que fez “brincadeira” com o Centrão em 2018

OBSERVATÓRIO FISCALIZA PODER ECONÔMICO E DÁ VOZ AOS POVOS DO CAMPO

Tampouco foi possível divulgar a última edição da série semanal de vídeos intitulada De Olho na Resistência. Nesta edição, contamos como foi o retorno das famílias da Liga dos Camponeses Pobres ao acampamento do qual haviam sido retiradas uma semana antes. Nossa reportagem esteve no local, em Rondônia. Assista (e se inscreva em nosso canal no YouTube) aqui.

Sem um canal adequado para esse tipo de situação, o Instagram mostra apenas uma mensagem genérica, dizendo que De Olho nos Ruralistas pode ter se engajado em conteúdo “considerado inoportuno ou abusivo por outros usuários”. Embora não se diga quais. Não se trata de uma resposta específica, feita a partir de um fato concreto. Apenas se levanta a hipótese de que leitores refratários ao nosso conteúdo tenham o poder de tirar do ar a pagina de um veículo de imprensa.

A mesma rede que manteve notícias falsas, que podem ter ditado rumos de eleições pelo mundo, barra, desta forma, um conteúdo jornalístico: notícias sobre violações de direitos de camponeses, investigações — reconhecidas por pesquisadores e organizações nacionais e internacionais — que desnudam o genocídio em curso no país, promoção de iniciativas de indígenas e quilombolas que lutam pelo direito à terra e à alimentação.

JORNALISTAS LIVRES TAMBÉM TEVE CONTA DESATIVADA

O observatório já recorreu à rede social para recuperar o perfil. Até o momento, porém, não recebeu resposta. Enquanto a empresa não delibera sobre o assunto, se é que ele está sendo avaliado por uma equipe composta por seres humanos (e não apenas pelo algoritmo), nossos leitores podem acessar nosso site — www.deolhonosruralistas.com.br — e os perfis no Facebook, YouTube e Twitter.

Para apoiar diretamente o projeto, a partir de R$ 12 mensais, acesse aqui. As informações atualizadas sobre essa censura serão divulgadas em nosso perfil no Twitter. O Instagram era a segunda rede com mais seguidores do De Olho, atrás apenas do Facebook. No Twitter, alguns jornalistas já prestaram imediatamente solidariedade ao observatório.

O coletivo Jornalistas Livres, que também noticia questões relativas aos direitos humanos, aos direitos ambientais e à defesa dos povos originários, entre outros temas, enfrentou problema semelhante. A conta de mais de 600 mil seguidores foi desativada no mês passado, após postagens que denunciam racismo, nazismo, feminicídio e as recorrentes atitudes fascistas do governo Bolsonaro.

O veículo conseguiu recuperar o perfil depois de quase 24 horas. O próprio Instagram admitiu que errou e pediu desculpas. “Nós, Jornalistas Livres, já vínhamos sofrendo uma série de ataques de trolls bolsonaristas, cada vez que denunciávamos o horror que a retórica do miliciano e seus cúmplices contém, combinada ao passado mais tenebroso do colonialismo e da escravidão”, disse o coletivo, em nota.

OBSERVATÓRIO SOFREU ATAQUES NA VÉSPERA DAS ELEIÇÕES

No ano passado, na véspera das eleições municipais, a página do De Olho nos Ruralistas ficou mais de cinco horas fora do ar. A pane foi fruto de um ataque coordenado contra o servidor que armazena o nosso conteúdo, tornando o site inacessível. O mesmo aconteceu com o Outras Palavras e o O Joio e o Trigo.

Na época, outras páginas de veículos da imprensa independente e de movimentos sociais foram bombardeadas. O observatório entrava na reta final da série “O Voto Que Devasta“, cujas reportagens expuseram o histórico de crimes ambientais, grilagem, corrupção e violência contra os povos do campo protagonizados por políticos, especialmente na Amazônia.

O observatório pede apoio dos leitores para continuar seu trabalho. Um trabalho jornalístico e também de pesquisa, que incomoda latifundiários, políticos e grandes corporações. As ações de resistência neste país sob a marca da desigualdade e da violência passam também pela tecnologia. Pela inclusão.

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link.

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link.