Instagram de Rosângela Moro reflete o desespero de quem falhou ao tentar transformar o Judiciário em força política. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 28 de setembro de 2018 às 10:11

Rosângela Moro escancarou suas posições políticas e tem postado freneticamente em seu Instagram, que é público, mensagens de cunho eleitoral. Ele tentou puxar duas hashtags, mas fracassou.

Uma hashtag é “voto consciente”, com a mensagem de brasileiros com camisa da CBF protestando contra a corrupção, em 2015 e 2016, e a mensagem “Não pode ter sido em vão”.

Postou também mensagem com uma foto de uma criança desnutrida, supostamente venezuelana, ao lado de Nicolás Maduro gordo e a frase: “Isso não está certo”.

Um internatura comentou: “Certo é auxílio-moradia para quem tem imóvel próprio na cidade onde trabalha?’.

Mas outra seguidora pegou a deixa: “Isso pode acontecer aqui se não agirmos rápido e eficazmente”. O que isso significa: Um novo golpe, para impedir as eleições?

Rosângela também postou uma instalação pública de Curitiba com a representação de uma torre de dinheiro, como se aquilo fosse o total representado pela corrupção.

No final, criou a hashtag “eles não”. Sobre o “ele não”, silêncio absoluto.

Rosângela, como qualquer cidadão, pode expressar livremente sua opinião, mas não dá para dissociar o que ela posta da atuação de seu marido, o juiz Sergio Moro, que lidera a Lava Jato.

Desde que permitiu vazamentos seletivos e contribuiu para criar o ambiente propício ao impeachment de Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade, ele é identificado como o anti-Lula.

Nos processos que conduz, comporta-se como parte, não como magistrado, não como um agente público que deveria se colocar acima das paixões políticas.

Mesmo as publicações que o apoiaram, como Veja, retrataram o juiz como lutador em uma luta livre contra o ex-presidente da república.

E Moro chegou a gravar um vídeo em que pediu a seus seguidores (juiz com seguidores é uma excrescência) para que não comparecessem a Curitiba no dia em que Lula prestou seu primeiro depoimento.

Rosângela expressa o que, sem dúvida, os responsáveis pela Lava Jato gostariam de dizer. Mas não podem. O que ela expressa é um sinal de desespero diante da iminente vitória de Fernando Haddad, o candidato do Lula, para a presidência da república.

O coordenador Deltan Dallagnol, que num momento de aperto chegou a fazer palestra em uma das APAEs sob influência de Rosângela, se gabou de ter obtido 1 milhão de assinaturas para o projeto das 10 medidas contra a corrupção — na verdade, medidas que dão aos procuradores poderes que estão acima da Constituição, como a admissão de provas ilícitas e a suspensão de habeas corpus em alguns casos.

Imagine-se como os lavajateiros devem estar agora quando o candidato de Lula se apresenta em condições reais de subir a rampa do Palácio do Planalto, o que não fará sem que tenha pelo menos 50 milhões de votos, votos conferidos livremente, em campanha intensa de todas as correntes, inclusive de um candidato que se apresenta como o candidato da Lava Jato, nanico nas pesquisas.

Pode-se dizer o mesmo do contingente de assinaturas recolhidos pela Lava Jato? São assinaturas autênticas? Quem fiscalizou?

De qualquer forma, com a seletividade das investigações, voltadas contra o PT e agora contra os adversários paroquiais — isso explica a fúria contra o tucano Beto Richa –, a Lava Jato se constituiu num núcleo de poder.

O desespero de Rosângela, identificado pelas suas postagens, reflete a percepção dos lavajateiros de que a maioria da população os rejeitou — não significa, em absoluto, rejeitar o combate à corrupção, mas o uso do poder judicial com fins políticos.

Lula e tudo que ele representa estão sob escrutínio nesta eleição.

A vitória de Haddad representará o primeiro passo no caminho da recuperação da democracia brasileira, uma conquista necessária para extirpar da república o mau hábito de autoridades de usar o poder não conferido pelo voto para violentar a soberania popular.

Não, Rosângela Moro, o que tem legitimidade nunca é em vão. É uma árvore que dá bons frutos.

Algumas postagens do Instagram da esposa de Sergio Moro: