Inteligência de Israel sugere remanejar 2,2 milhões de palestinos de Gaza para o Sinai

Atualizado em 31 de outubro de 2023 às 22:29
Pessoas caminhando em meio aos destroços em Gaza
Ministério da Inteligência de Israel quer tirar palestinos de Gaza – Reprodução

Um documento elaborado pelo Ministério da Inteligência de Israel e vazado pela mídia local dá pistas sobre as possíveis opções para o destino da população de Gaza: a realocação para a Península do Sinai, no Egito. Com informações do G1.

A questão que surge juntamente com a decisão de Israel de avançar suas tropas na Faixa de Gaza diz respeito ao futuro desse território após o alcance do objetivo de desmantelar o grupo Hamas.

A sugestão de transferência forçada de 2,2 milhões de habitantes de Gaza para acampamentos no Sinai está detalhada em um documento de 10 páginas, divulgado recentemente pelo site de notícias econômicas “Calcalist” e posteriormente reproduzido pelos principais jornais israelenses.

Essas áreas designadas como “cidades de tendas,” criadas para acolher a população deslocada que não teria a opção de retornar a Israel, seriam convertidas em cidades permanentes no norte do Sinai. Além disso, de acordo com o documento, uma zona de segurança de alguns quilômetros de extensão seria estabelecida para impedir que os refugiados se aproximem da fronteira israelense.

No entanto, essa possível migração forçada da população levantaria preocupações e condenações da comunidade internacional em relação a Israel. Paralelamente ao deslocamento, o governo buscaria o apoio de outros países, especialmente dos Estados Unidos, para implementar esse plano.

No entanto, essa ideia enfrenta oposição por parte dos egípcios. O presidente Abdel Fattah El-Sisi rejeitou previamente a ideia de absorver a população palestina de Gaza e recebeu a garantia do presidente Joe Biden durante sua visita à região de que não haveria deslocamento de refugiados para o Egito.

Os Estados Unidos também se manifestaram contrários ao conceito de realocação populacional, conforme expressado pelo secretário de Estado Antony Blinken em suas visitas aos países árabes.

Sisi não aceita sequer a possibilidade de abrir a fronteira de Rafah para a saída de cidadãos estrangeiros que estão retidos em Gaza e desejam escapar dos conflitos, como é o caso de um grupo de 28 brasileiros que o governo tenta retirar de Gaza.

Pessoas caminhando em meio aos destroços em Gaza
Paestinos em Gaza – Foto: Fatima Shbair/Associated Press

“Transferir refugiados da Faixa de Gaza para o Sinai equivaleria a realocar a sua resistência e transformar a área numa plataforma de lançamento para operações contra Israel, além de conceder a Israel o direito de se defender, conduzindo ataques em terras egípcias” argumentou o presidente Sisi.

Ele acrescentou que o Egito já enfrenta sua própria resistência islâmica no Sinai e rejeita qualquer política que permita a Israel “resolver a questão palestina às custas de seus vizinhos”.

A ideia de realocar a população palestina para o Egito não é nova e nunca se concretizou. Em 2004, quando o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon planejava a retirada unilateral de Gaza, surgiu uma iniciativa chamada Plano Eiland – em homenagem ao major Giora Eiland, que liderava o Conselho de Segurança Nacional.

Esse plano também propunha a transferência de palestinos de Gaza para o Sinai, em terras cedidas pelo Egito, em troca de uma área no sudeste de Israel para a construção de um túnel ligando o Egito à Jordânia. No entanto, o então presidente, Hosni Mubarak, recusou a ideia.

A versão atual do plano foi sugerida pelo Ministério da Inteligência, liderado por Gila Gamliel, membro do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, embora tenha influência limitada no governo.

O gabinete do primeiro-ministro negou ao jornal “Haaretz” que a “questão do dia seguinte”, referindo-se ao futuro de Gaza, esteja sendo discutida pelo governo no momento.

O foco atual de Israel é desmantelar as capacidades governamentais e militares do Hamas. No entanto, independentemente de ser ou não um teste de opinião pública, a proposta de realocação de palestinos parece destinada a enfrentar obstáculos e provavelmente não será concretizada.

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