Internauta cria teoria sobre homossexualidade de personagem de ‘Dom Casmurro’

Atualizado em 11 de novembro de 2018 às 20:33

A usuária do Twitter @anacronices criou uma teoria sobre a suposta homossexualidade do personagem Bentinho de “Dom Casmurro”, obra escrita por Machado de Assis.

Para ela, Bentinho era apaixonado por seu amigo Escobar e “projetou em Capitu o amor proibido que ele mesmo ambicionava viver”.

A teoria fez sucesso entre os internautas e recebeu milhares de interações em apenas 2 dias.

Leia na íntegra o que diz a moça

Para além da traição de Schrodinger, Machado de Assis escreveu personagens complexos, ricos, cruzando verdade e imaginação num texto sinuoso que permite traçar um retrato moral da época.

Dom Casmurro é quase uma obra aberta em que o leitor pode criar o seu próprio caminho de acordo com as pistas espalhadas pela obra.

E é a partir desse recurso que levanto uma tese pouco explorada: seria Bentinho secretamente apaixonado por Escobar, e em seus delírios projetou em Capitu o amor proibido que ele mesmo ambicionava viver?

Aqui temos a primeira descrição de Escobar e o canibalismo serrista de Bentinho: “Chamava-de Ezequiel de Sousa Escobar. Era um rapaz esbelto, um pouco fugidio, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo”.

Machado de Assis usava suas obras pra fazer denúncias veladas e explícitas a sociedade da época. Esse trecho pode ser entendido como indício de que a paixão secreta de Bentinho era correspondida, mas também uma sutil delação a padres abusadores:

“Ia alternando casa e seminário. Os padres gostavam de mim. Os rapazes também, e Escobar mais do que os rapazes e os padres”.

“Os olhos de Escobar eram dulcíssimos (…) Realmente era interessante de rosto, a boca fina e chocarreira, o nariz fino e delgado” DULCÍSSIMO (!) Aqui vemos um homem do século 19 usando superlativo livremente. Mais uma coisa que a masculinidade frágil e tóxica destruiu.

Mais um reforço de que a relação dos dois era pura broderagem: “Fui levá-lo a porta… separamo-nos com muito afeto. Conservei-me na porta, a ver se ao longe, ainda olharia pra trás, mas não olhou”.

Capitu começa a perceber nas palavras de MR. Catra que o bagulho tá sério e vai rolar o adultério: “Capitu viu na janela as nossas despedidas tão rasgadas e afetuosas e quis saber quem era que merecia tanto”.

Não acredito que Machado de Assis inventou os g0ys: “Escobar apertou-me as mãos às escondidas, com tal força que ainda me doem os dedos”.

Aparentemente ‘apertar as mãos’ era uma gíria dos jovens da época: “Apertei as mãos de Escobar, foi uma total ausência de palavras, assinamos o pacto. Elas vieram depois, de atropelo, afinadas pelo coração”.

O que acontece em Matacavalos fica em Matacavalos: “Escobar também se fez pegado ao coração. As nossas visitas foram se tornando mais próximas, e nossas conversações mais íntimas”.

Num cantinho rabiscado no verso, ele disse: meu amor eu confesso… “A moldura que te mandei não encobria a dedicatória, escrita embaixo, nas costas do cartão: Ao meu querido Bentinho, do seu querido Escobar”.

Sem você chegou até aqui e não está convencido, então observe esse trecho em que Bentinho beija Capitu pela primeira vez e consegue a tão desejada autoafirmação masculina: “De repente, sem querer, sem pensar, saiu-me da boca esta palavra de orgulho: SOU HOMEM”.

Com isso concluímos que o B de LGBT é Bentinho.