Intervenção no Rio termina em dez dias, mas sem reduzir criminalidade

Atualizado em 21 de dezembro de 2018 às 11:36

Publicado na RBA

São Paulo – Durante os dez meses de intervenção federal com ocupação militar na segurança pública do Rio de Janeiro – que se encerra no próximo dia 21 – dados apontam que não houve redução dos índices de criminalidade no estado, ao mesmo tempo em que moradores das favelas afirmam que a violência só cresceu na capital fluminense.

Os militares apostaram no confronto aberto e, para quem vive nas favelas e periferias, não houve nada de positivo. “As intervenções policiais acontecem em horários que as crianças vão para as escolas, os trabalhadores para o serviço, ou seja, pessoas estão morrendo no meio da rua sem ter como se proteger e o tráfico continua como antes. Então não teve resultado eficaz”, afirma Simone Quintela, presidente da Associação de Moradores de Manguinhos, bairro da zona norte do Rio.

O Observatório da Intervenção realizou um monitoramento mensal dessas ações. Ao todo foram 440 operações, na qual o número de tiroteios cresceu 56% nesses 10 meses. As mortes decorrentes da ação policial também aumentaram: 40%, totalizando 916 óbitos. Ainda durante este período, 103 agentes de segurança foram mortos.

“A gente acha que o saldo geral desses dez meses é muito negativo, porque gastou-se muito dinheiro concentrando esses recursos em grandes operações, mas com resultados extremamente frágeis”, afirma a cientista social Silvia Ramos.

Moradores também contam que perderam direitos básicos, como o lazer. “Você só teve mais violência, porque o índice de criminalidade não diminuiu, houve o aumento de tiroteios e eu não vejo meu direito garantido de ir e vir com a intervenção, de meus filhos brincarem na rua”, relata Kátia Cristina, também moradora de Manguinhos.

Os dados mostram que foram 48 pessoas mortas por bala perdida, além de 21 execuções policiais. A Medida Provisória 825, do dia 28 de março, autorizou crédito extraordinário no valor de R$ 1,2 bilhão para ações decorrentes da intervenção. O gasto também é criticado.

“A gente sofre porque tem territórios que são estigmatizados, onde eles agem de uma forma diferente do que em outros. Quando teve a intervenção na Maré foi um gasto absurdo, nada ficou de legado”, critica Fernanda Araújo, moradora da Maré, na zona norte da capital fluminense.

Para Silvia Ramos, apesar de todos esses problemas, a solução é inverter a lógica das ações de combate à criminalidade. “A polícia do Rio de Janeiro é extremamente bélica, agressiva e opta pelo confronto. Essa política não dá certo. Combater a violência é possível, mas mudando política de segurança e priorizando a vida”, conclui.