Intolerância e vacilação no caso da mostra no Santander: quando a marca não sabe o que quer

Atualizado em 11 de setembro de 2017 às 14:13
A exposição cancelada no Santander Cultural

Publicado no BlueBus.

POR JAYME SERVA

 

O episódio do fechamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, na semana passada, mostra mais do que simples intolerância.

Salta aos olhos, no caso, a juniorização das instâncias de decisão institucional e mercadológica do patrocinador – Banco Santander – e que parece ser geral nas empresas brasileiras.

Qualquer cidadão minimamente informado preveria que a mostra nao escaparia de protestos de setores conservadores. O Santander, sua diretoria e seu departamento de marketing certamente tinham isso em conta. Se lançaram a exposição, é porque calcularam o eventual risco.

No entanto, à menor grita dos articulados adolescentes conservadores do MBL, a instituição tremeu – e desistiu de uma decisão estratégica já em pleno curso.

A ameaça dos garotos era boicotar o banco, manter uma campanha para que os clientes fechassem suas contas no banco espanhol.

Um estudante mediano de comunicação sabe que esse tipo de debate, mesmo que conflituoso, como era o caso, só traz benefícios à marca. Liberdade é um valor que alguns vao à rua defender, mas a maioria apoia em silêncio.

Por outro lado, bastava uma declaração de 15 minutos à imprensa, mostrando duas ou três obras expostas na Galeria Degli Ufizzi ou no (a turma adora!) Whitney Museum of Modern Art para acalmar de vez a classe média eventualmente incomodada (claro, os garotos do MBL seguiriam estrilando – e gerando justamente o efeito “falem-mal-mas-falem-de-mim”).

Preocupa, no episódio, que apenas grupos defensores das causas LGBT tenham vindo a público para protestar. Essa não é uma causa gay. É uma causa da liberdade. Assim, interessa – e ameaça – a todos.