
A Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliam que a extradição de Alexandre Ramagem (PL-RJ) será um processo difícil. O deputado fugiu para os Estados Unidos após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso da trama golpista, e investigadores veem obstáculos maiores do que no caso de Carla Zambelli (PL-SP).
Segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, autoridades avaliam que, embora também condenada e foragida, Zambelli responde por um crime comum, a invasão hacker do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sem ligação com 8 de Janeiro, o que reduz contornos políticos.
Ramagem, ao contrário, recebeu pena de 16 anos e um mês em regime fechado por usar a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para tentar desacreditar o processo eleitoral. A PF não conseguiu executar a prisão porque o deputado já havia cruzado a fronteira com a Guiana enquanto o julgamento ocorria.
Nas palavras de uma fonte, as acusações contra ele “poderiam ser enquadradas como um crime político”, o que complica a extradição em termos legais. Investigadores afirmam que o caráter político da condenação tende a pesar contra o pedido brasileiro.
“A chance de processarem lá é zero, porque estamos falando de governo Trump”, disse uma autoridade que acompanha o caso. O contexto inclui declarações públicas de Donald Trump e outras figuras do governo americano criticando Moraes e o processo que levou às condenações de Ramagem e Jair Bolsonaro.

Os sinais de resistência são explícitos. Mesmo após conversas com Lula sobre tarifas, Trump não recuou das sanções da Lei Magnitsky contra Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, nem da revogação de vistos de ministros do STF e do governo. O secretário de Estado, Marco Rubio, já chamou Moraes de “abusador de direitos humanos”.
Depois da prisão de Bolsonaro, o subsecretário do Departamento de Estado, Christopher Landau, classificou a medida como “provocativa e desnecessária”. Em outro ataque, afirmou que “o juiz Moraes, um violador de direitos humanos sancionado, expôs o Supremo Tribunal Federal do Brasil à vergonha e ao descrédito internacional”.
No caso de Zambelli, o Ministério Público italiano adotou avaliação oposta. Para os italianos, as decisões do Judiciário brasileiro estavam fundamentadas em “múltiplas provas”, como documentos e gravações telefônicas, desmontando qualquer narrativa de perseguição. Essa diferença reforça a distância entre os dois cenários de extradição.
A PF também reconstruiu o roteiro de fuga de Ramagem. Ele chegou a Boa Vista na noite de 9 de setembro, data em que Moraes leu voto condenando oito réus do núcleo golpista. No dia seguinte, passou por Bonfim rumo à Guiana e, em 11 de setembro, embarcou para Miami com passaporte diplomático, onde permanece com a família.