Investigados por Moraes apontam erro na estratégia de Bolsonaro contra o STF: “Burrice”

Atualizado em 26 de dezembro de 2024 às 13:02
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): ele tenta retirar inquérito da trama golpista das mãos de ministro do Supremo. Foto: reprodução

A insistência dos advogados de Jair Bolsonaro em tentar o impedimento do ministro Alexandre de Moraes no inquérito da trama golpista tem gerado críticas nos bastidores, inclusive entre a defesa de outros investigados. A estratégia é vista como ineficaz e até prejudicial, conforme informações da colunista Malu Gaspar, do Globo.

“Essa ideia do impedimento já foi descartada logo no início da investigação, quando o STF manteve Alexandre de Moraes na relatoria. Isso só dá mais moral para o ministro. O STF sempre provou que está junto dele”, afirmou, sob anonimato, um advogado de um dos 40 indiciados pela Polícia Federal. Ele completou: “A insistência em teses já superadas é uma burrice, e até burrice tem limite”.

Nos bastidores, a estratégia bolsonarista é considerada condenada ao fracasso e vista como um movimento que apenas fortalece Moraes perante seus colegas no Supremo.

Bolsonaro já tentou, sem sucesso, afastar Moraes do caso em duas ocasiões, e um terceiro pedido aguarda análise, sem previsão de julgamento. A defesa do ex-presidente alega que Moraes, por supostamente ser um dos alvos do plano golpista, não teria imparcialidade para conduzir o inquérito.

Esse argumento foi rejeitado pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que destacou: “Os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado têm como sujeito passivo toda a coletividade, e não uma vítima individualizada”.

A decisão foi ratificada pelo plenário em 16 de outubro, com nove votos contra o impedimento e apenas um a favor, do ministro André Mendonça, indicado ao STF por Bolsonaro.

Histórico do STF e ofensas de Bolsonaro 'seguram' Moraes - 21/02/2024 - Poder - Folha
Bolsonaro e Moraes: a estratégia bolsonarista é vista como um movimento que apenas fortalece Moraes perante seus colegas no Supremo. Foto: reprodução

Para analistas, a insistência do ex-capitão em desqualificar Moraes não é apenas uma estratégia jurídica, mas também política. Ele busca mobilizar sua base e construir a narrativa de que é alvo de perseguição judicial. Ao transformar Moraes em seu “inimigo público número 1”, Bolsonaro tenta desviar o foco das acusações contra ele e alimentar a polarização.

Apesar disso, a estratégia é criticada até por aliados. Um defensor de outro investigado no inquérito afirmou que a repetição de teses já superadas mostra falta de planejamento e desperdício de recursos. Segundo ele, o pedido de impedimento poderia ter sido uma “última carta na manga”, mas foi usado de forma precipitada.

O julgamento do recebimento da denúncia contra Bolsonaro e outros investigados será realizado pela Primeira Turma do STF, composta por Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Flávio Dino e Cristiano Zanin, os dois últimos indicados pelo presidente Lula.

Enquanto Bolsonaro mantém sua ofensiva jurídica, especialistas acreditam que o enfrentamento ao STF apenas reforça a autoridade de Moraes dentro da Corte.