Isolado, Eduardo se segura em Milei em meio à química entre Trump e Lula

Atualizado em 7 de outubro de 2025 às 18:53
Eduardo Bolsonaro e Javier Milei. Foto: Divulgação

Eduardo Bolsonaro voltou a recorrer a Javier Milei como símbolo político em meio ao isolamento do bolsonarismo no cenário internacional. O deputado publicou nas redes sociais um vídeo do presidente argentino cantando rock durante o lançamento de seu novo livro, e escreveu: “Presidente Milei lança livro, fala de liberdade, Bolsonaro e o método da esquerda de usar assassinato como instrumento político. Gracias, Presidente.”

A tentativa de aliança ocorre em um momento em que Donald Trump, antigo aliado da extrema direita brasileira, tem demonstrado afinidade crescente com o presidente Lula, o que explica a tentativa de Eduardo de reatar laços com o argentino, mesmo quando Milei enfrenta forte desgaste político.

Na Argentina, o evento de Milei foi mais do que um lançamento de livro: uma tentativa de reacender o ânimo de sua base, abalada pela crise que atinge o governo e o partido A Liberdade Avança.

A 20 dias das eleições legislativas, o presidente subiu ao palco com jaqueta de couro, cabelos desalinhados e banda própria, composta por correligionários e ministros, para cantar clássicos do rock argentino diante de milhares de apoiadores.

O show aconteceu um dia depois de uma nova turbulência política. José Luis Espert, principal candidato do partido na província de Buenos Aires, renunciou à candidatura após ser acusado de receber dinheiro e favores de um empresário preso por tráfico internacional de drogas. O escândalo colocou Milei em posição delicada, pressionando ainda mais sua base.

Mesmo acuado, o presidente tentou mostrar confiança. Em seu discurso, declarou que o kirchnerismo “ganhou um round, mas não a guerra”, numa tentativa de minimizar a derrota eleitoral parcial em Buenos Aires. Também ironizou Cristina Kirchner, entoando o cântico “Cristina Tornozeleira”, em referência à prisão domiciliar da ex-presidente.

Depois da performance musical, Milei voltou ao palco “vestido de presidente”, como ele mesmo disse, usando terno e gravata. Ao lado do porta-voz Manuel Adorni, falou sobre seu livro A construção do milagre, que reúne discursos e ensaios sobre suas decisões desde a posse, em dezembro de 2023. Coberto com a bandeira argentina, encerrou o ato cantando o hino nacional e atacando a esquerda internacional.

Milei afirmou que a esquerda “usa o assassinato como instrumento político”, citando os casos de Jair Bolsonaro, Donald Trump, o colombiano Miguel Uribe e o influenciador Charlie Kirk. “Quando perdem o debate, recorrem à violência. Tentaram matar Bolsonaro, tentaram matar esse colosso que é Trump”, declarou.

O presidente argentino também aproveitou para exaltar seus números econômicos, alegando ter reduzido a inflação de 25,5% ao mês, em dezembro de 2023, para 1,9% em agosto deste ano. “Estamos no caminho certo, mas ainda não atravessamos o rio”, afirmou, pedindo paciência e fidelidade aos seus seguidores.

A força acabou, fica o barulho

Com a velha retórica da cruzada antiesquerdista e o verniz de “rebeldia” que ainda tenta vender, Milei ofereceu a Eduardo Bolsonaro um último palco para posar de protagonista. O gesto, porém, soa como um fim de feira: o argentino enfrenta queda de popularidade, investigações em seu entorno e crescente isolamento diplomático, enquanto o bolsonarismo vê Donald Trump preferir o pragmatismo de Lula. Ao se agarrar a Milei, o deputado repete o roteiro de um movimento que perdeu aliados e tenta sobreviver à margem do poder — mais barulho do que força real.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.