Israel ataca hospital em Gaza duas vezes e mata 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas

Atualizado em 25 de agosto de 2025 às 16:27
Mariam Abu Dagga fotografada em Khan Younis em junho: morta. Foto: Jehad Alshrafi/AP

Israel bombardeou nesta segunda-feira (25) o hospital Nasser, no sul da Faixa de Gaza, matando ao menos 20 pessoas, entre elas cinco jornalistas. Segundo autoridades de saúde locais, o primeiro ataque atingiu o último andar do prédio, matando o cinegrafista da Reuters Hussam al-Masri e outros civis.

Quinze minutos depois, quando socorristas e repórteres tentavam ajudar os feridos, uma segunda bomba atingiu o mesmo ponto, caracterizando o que especialistas chamam de ataque “duplo”.

As mortes foram registradas ao vivo por transmissões de TV. Imagens da AlGhad mostraram trabalhadores da defesa civil com coletes laranja e jornalistas tentando se proteger segundos antes da explosão. Outro vídeo revelou os corpos dos profissionais e socorristas amontoados, cobertos de sangue e poeira.

A tragédia provocou forte condenação internacional. O chanceler britânico David Lammy disse estar “horrorizado” e pediu cessar-fogo imediato. O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou “não estar feliz” com o ataque, enquanto Emmanuel Macron classificou a ação como “intolerável”. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, falou em “erro trágico”.

Entre os mortos estão Hussam al-Masri (Reuters), Mariam Abu Dagga (Associated Press), Mohammed Salam (Al Jazeera), o fotojornalista Moaz Abu Taha e Ahmad Abu Aziz (Quds Feed). Outro fotógrafo da Reuters, Hatem Khaled, ficou ferido.

De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), já são pelo menos 193 repórteres palestinos mortos desde outubro de 2023 — mais do que o número global registrado nos três anos anteriores.

O Ministério da Saúde de Gaza disse que o ataque interrompeu cirurgias em andamento e acusou Israel de promover “a destruição sistemática do sistema de saúde”. O hospital Nasser é o único público ainda em funcionamento no sul de Gaza. Israel alega, sem apresentar provas, que o Hamas utiliza hospitais para fins militares.

Já organizações de imprensa internacionais afirmam que os assassinatos de jornalistas se tornaram prática recorrente. Relatórios mostram que 88% das investigações de crimes de guerra contra Israel são arquivadas ou inconclusivas.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.