Israel diz que esta é a “última oportunidade” para moradores de Gaza saírem

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 22:44
Benjamin Netanyahu falando, sério, com bandeiras de Israel ao fundo
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel – Reprodução

O Exército israelense emitiu nesta quarta-feira (1º) o que chamou de seu aviso final para que moradores da Cidade de Gaza fujam, enquanto intensificava bombardeios e operações terrestres. Ao mesmo tempo, o Hamas estaria avaliando solicitar alterações ao plano de cessar-fogo apresentado por Donald Trump.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarou que este seria o último momento para que civis se deslocassem para o sul, já que as forças israelenses cercaram a cidade. A Defesa Civil de Gaza informou que pelo menos 46 pessoas foram mortas na quarta-feira, 36 delas na Cidade de Gaza.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha anunciou a suspensão de suas atividades na cidade diante da escalada da ofensiva israelense. Katz afirmou: “Esta é a última oportunidade para os moradores de Gaza que quiserem se deslocar ao sul e deixar os combatentes do Hamas isolados na Cidade de Gaza”. Segundo ele, quem permanecer “será considerado terrorista ou apoiador de terroristas”.

Especialistas em direito humanitário lembraram que ordens de evacuação configuram deslocamento forçado e que civis que permanecem em áreas evacuadas não perdem sua proteção legal internacional.

Horas antes, o Exército israelense informou o fechamento da última rota que ligava o sul ao norte de Gaza, dividindo o território. Ainda seria possível, no entanto, deslocar-se do norte para o sul pela estrada costeira.

O Hamas, segundo a agência AFP, avalia propor mudanças no plano de Trump, que exige o desarmamento do grupo e o exclui de qualquer papel no governo de Gaza. Trump havia advertido na véspera que o movimento “pagaria no inferno” se rejeitasse o acordo. Uma fonte palestina próxima ao Hamas disse que as possíveis alterações incluiriam cláusulas sobre desarmamento, retirada de dirigentes do movimento e garantias internacionais de que Israel deixará completamente Gaza e não tentará assassinar líderes do grupo.

Prédios destruídos em Gaza após ataque israelense. Foto: Hatem Khaled/Reuters

O chanceler do Egito, Badr Abdelatty, declarou que alguns pontos do plano precisariam de mais negociação — posição já manifestada pelo Catar. Não está claro como EUA e Israel reagiriam a uma resposta condicionada, dada a série de ameaças recentes contra o Hamas.

O plano de Trump, com 20 pontos, prevê que o Hamas libere os 48 reféns restantes em até 72 horas após o cessar-fogo, enquanto Israel soltaria quase 2.000 prisioneiros palestinos e retiraria gradualmente tropas para uma zona-tampão na fronteira da Faixa de Gaza. O acordo incluiria também aumento da ajuda humanitária e início da reconstrução. O texto, porém, não contempla a criação de um Estado palestino — reivindicação de Hamas e de países árabes.

Benjamin Netanyahu afirmou, após o anúncio do plano, que o Exército permaneceria na maior parte de Gaza, em contradição com os termos divulgados publicamente. A proposta foi vista como uma exigência de rendição quase total do Hamas.

Grupos armados aliados do Hamas já rejeitaram a iniciativa, argumentando que ela entregaria o controle de Gaza a Israel. O debate interno do Hamas deve ocorrer em Doha, onde vivem seus principais dirigentes e onde se reunirão mediadores do Egito, Catar e o chefe da inteligência turca. Não está confirmado se a liderança do movimento participará diretamente, após um ataque israelense contra a capital catariana no mês passado, que teria como alvo seus quadros.

Diversos países — entre eles a Autoridade Palestina, Egito, Jordânia, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — disseram apoiar o plano. Até agora, é a única proposta formal de cessar-fogo apresentada.

Enquanto isso, a crise humanitária se agrava. Segundo autoridades de saúde de Gaza, 51 palestinos morreram nas últimas 24 horas, incluindo cinco atingidos por um tanque israelense enquanto buscavam água e outros que se abrigavam em uma escola. Duas pessoas morreram de fome no mesmo período, elevando para 455 o número de palestinos mortos por inanição desde o início da guerra.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, desde outubro de 2023 mais de 66 mil palestinos foram mortos e quase 170 mil ficaram feridos na campanha militar israelense, deflagrada após o ataque liderado pelo Hamas que matou cerca de 1.200 pessoas no sul de Israel.