Israel negocia envio de palestinos de Gaza para o Sudão do Sul

Atualizado em 13 de agosto de 2025 às 15:15
Palestinos desabrigados em Gaza após ataques israelenses. Foto: Khalil Ramzi/Reuters

Israel mantém conversas com o Sudão do Sul sobre a possibilidade de transferir palestinos da Faixa de Gaza para o país africano, devastado por conflitos. A informação foi confirmada por seis fontes à Associated Press, que indicam não haver clareza sobre o avanço das negociações.

Caso concretizada, a medida significaria deslocar pessoas de uma região arrasada por 22 meses de ofensiva israelense contra o Hamas para outra marcada por guerra e risco de fome, levantando preocupações sobre direitos humanos.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu defende o que chama de “migração voluntária” da população de Gaza, alinhada à visão do ex-presidente dos EUA Donald Trump de realocar grande parte dos moradores do território. Propostas semelhantes já teriam sido apresentadas a outros países africanos.

Ele afirmou que a saída de civis permitiria ações militares “com toda a força” contra quem permanecesse na área, sem mencionar especificamente o Sudão do Sul.

Organizações palestinas, grupos de direitos humanos e a maior parte da comunidade internacional veem o plano como expulsão forçada, proibida pelo direito internacional. O Sudão do Sul, por sua vez, nega oficialmente que esteja tratando do assunto, embora intermediários confirmem que houve discussões.

Segundo o lobista Joe Szlavik, que trabalha para o governo sul-sudanês, uma delegação israelense pretende visitar o país para avaliar a criação de acampamentos financiados por Israel.

Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Foto: Leah Millis/Reuters

O Egito, que faz fronteira com Gaza, rejeita qualquer proposta de transferência de palestinos, temendo aumento do fluxo de refugiados. Relatos indicam que Israel e EUA já sondaram também Sudão, Somália e a região autônoma de Somaliland para iniciativas semelhantes, sem informações claras sobre o andamento.

O Sudão do Sul, que enfrenta grave crise econômica e busca apoio internacional, poderia usar o acordo para fortalecer laços com Israel e melhorar sua relação com Washington, incluindo a retirada de sanções. Ainda assim, líderes da sociedade civil alertam que a chegada de palestinos poderia gerar tensões, devido ao histórico de conflitos religiosos e étnicos com o norte árabe e muçulmano, do qual o país se separou em 2011.

Mesmo palestinos que desejam deixar Gaza temporariamente dificilmente aceitariam ir para um dos países mais instáveis do mundo, temendo nunca mais poder voltar e ver Israel anexar o território. O Sudão do Sul, além de lidar com a fome e a corrupção, ainda sofre os efeitos de uma guerra civil que matou quase 400 mil pessoas e mantém a paz interna sob risco constante.