
Israel anunciou na última segunda-feira (25) que rebaixará suas relações diplomáticas com o Brasil, após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não aprovar a nomeação do diplomata Gali Dagan para a chefia da embaixada israelense em Brasília. A decisão ocorre em meio a um quadro de crescente tensão entre os dois países, que se agravou desde o início do mandato do petista e se aprofundou após críticas feitas pelo presidente brasileiro ao massacre de palestinos na Faixa de Gaza.
Segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores de Israel, publicado pelo jornal The Times of Israel, o governo de Tel Aviv retirou formalmente o pedido de agrément, a autorização diplomática concedida pelo país anfitrião para a nomeação de um embaixador, após meses sem resposta do Itamaraty.
“Após o Brasil, excepcionalmente, se abster de responder ao pedido de agrément do embaixador Dagan, Israel retirou o pedido, e as relações entre os países agora são conduzidas em um nível diplomático inferior”, afirmou a chancelaria. Desde 12 de agosto, o posto de embaixador em Brasília está vago, após a aposentadoria de Daniel Zonshine, que ocupava o cargo desde 2021.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, explicou na segunda-feira que não houve um veto formal, mas sim uma decisão política de deixar o pedido sem resposta.
“Não houve veto. Pediram um agreement e não demos. Não respondemos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?”, disse, em referência ao episódio de fevereiro de 2024, quando o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi conduzido pelo chanceler israelense Israel Katz ao Museu do Holocausto, após Lula comparar a guerra em Gaza ao Holocausto nazista.

As relações entre os dois países atravessam um dos períodos mais delicados das últimas décadas. Em fevereiro de 2024, Lula afirmou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza é semelhante ao que Hitler fez com os judeus durante a Segunda Guerra Mundial”. A declaração provocou forte reação do governo de Benjamin Netanyahu, que declarou Lula “persona non grata”.
Como resposta, o Brasil retirou seu embaixador de Tel Aviv em maio daquele ano, sem indicar substituto. Além disso, em 2025, o Brasil aderiu à ação apresentada à Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de genocídio contra palestinos.
Para Celso Amorim, o rebaixamento diplomático reflete a insatisfação israelense, mas não altera a posição brasileira de condenar a atual política de Netanyahu em Gaza. “Nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade. Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo”, afirmou.