
O que os liberais brasileiros, incluindo economistas, jornalistas e políticos, acham dessa manchete do Ambito Financiero, o principal jornal de economia da Argentina?
“Às vésperas das eleições, o dólar superaqueceu e atingiu o teto da banda, sob mais uma intervenção dos EUA”.
Os defensores do câmbio livre, entregue aos humores do mercado, testemunham de longe o mercado do dólar ser controlado na Argentina.
Mas não pelo governo argentino, o que já seria contrário às convicções liberais. O dólar vem sendo contido por intervenções sustentadas pelo governo americano.
Foi o Tesouro americano que ofereceu, como rede de proteção ao governo de Javier Milei, pelo menos US$ 500 milhões de US$ 2 bilhões vendidos na quinta e na sexta para atender à demanda pela moeda americana.

Empresas e pessoas físicas tentam se proteger no dólar, o que é uma síndrome clássica argentina. Ninguém confia no peso. O dólar chegou a valer 1.490 pesos (o dólar no paralelo chegou a 1.520 pesos).
O governo argentino, que seria o modelo ultraliberal a ser seguido pelo Brasil, em que tudo é absolutamente liberado, controla o câmbio com intervenções no mercado, mas com a tutela do Tesouro de Donald Trump.
É algo nunca visto e nunca imaginável para os liberais brasileiros, que até dias atrás ainda exaltavam, já em meio ao caos, o plano econômico de Milei.
O câmbio argentino só não dispara porque os Estados Unidos oferecem suporte a um governo que não tem mais a confiança de ninguém que não seja do mercado financeiro.
O domingo é de eleições parlamentares na Argentina. Se os resultados nas maiores províncias forem muito desfavoráveis ao governo, o câmbio pode disparar, mesmo com a ajuda de US$ 20 bilhões do governo americano. E aí o governo Milei pode desabar.