O medo não venceu a esperança. O fotógrafo Eduardo Matysiak estava na Vigília Lula Livre e fez vários registros, inclusive logo depois que a segunda turma do Supremo Tribunal Federal decidiu não libertar o ex-presidente.
O registro fotográfico parece emitir um som, o som do silêncio, se isso fosse possível. As pessoas ali reunidas olham para a Superintendência da Polícia Federal, onde Lula está preso há exatos 445 dias.
“Esperança”. Foi assim que Eduardo definiu aquele momento. Não era desespero, revolta, tristeza. Era esperança. A Vigília que é uma das mais longevas da história, digna de entrar no Guiness Book, se alimenta da esperança.
Eduardo nasceu em Guarapuava, interior do Estado. Em Curitiba, se tornou amigo e assessor de Roberto Requião, que foi prefeito, governador e senador.
Desde o primeiro dia da Vigília, Eduardo está lá.
É dele a foto de Leonardo Boff sentado em frente à Superintendência logo nos primeiros dias da prisão de Lula, sem perder a esperança de visitar o amigo, o que acabou acontecendo alguns dias depois.
É dele a maioria das fotos sobre Vigília e a rotina de visitas a Lula publicadas pela imprensa, principalmente nos sites progressistas.
Eduardo evita o sensacionalismo, e é por essa razão que decidiu não fotografar os parentes e a namorada de Lula.
“Procuro contar uma história que tenha interesse público, procuro um fundamento”, conta. Ele fotografa principalmente os militantes anônimos da Vigília, os protagonistas desta história de resistência.
É a Vigília que o atrai.
Recentemente, o governador do Maranhão, Flávio Dino, depois de visitar Lula, se encontrou com Requião e convidou Eduardo a fazer um ensaio fotográfico no Estado.
Eduardo preferiu ficar, ouvindo o conselho de Requião. “Você está no centro de tudo”, disse-lhe o ex-senador. Eduardo define o que entende por “centro de tudo”:
“A Vigília Lula Livre em Curitiba é algo que deve ser pesquisado, o comprometimento daquelas pessoas é fora do comum”.
Não há frio (que é de rachar em Curitiba), calor ou chuva que afaste as pessoas dali. Enquanto esperam, com a certeza de que Lula será solto, fazem cursos, cantam música, leem poesia, vivem.
Hoje de manhã, depois de mais uma noite à espera do momento em que Lula entrará na Vigília para beber um goró, como disse em entrevista, os vigilantes estavam de novo a postos.
“Não foi ontem, mas vai ser logo. Vamos nos manter firmes, vamos nos manter fortes. Vamos continuar resistindo. Porque o Lula vai sair daí. Vai sair pela nossa resistência. Vai sair pela nossa organização. Vai sair pela nossa energia positiva que a gente está passando para ele ficar forte e firme, e manter a esperança. Com certeza, depois a gente vai estar junto com o Lula, fazendo o melhor pelo nosso país”, disse hoje Luciana Guzella Rafagnin, que é de uma família de pequenos agricultores no Paraná e hoje exerce mandato de deputada estadual.
Luciana e todos os outros que estavam ali, de megafone e violão, sabem que da janela de sua cela Lula estava ouvindo.