Itamaraty acusa EUA de “intromissão indevida” no Brasil; leia a nota na íntegra

Atualizado em 15 de julho de 2025 às 17:16
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, e Lula. Foto: AFP

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu um comunicado oficial nesta terça-feira (15) classificando as recentes manifestações diplomáticas dos Estados Unidos como uma “nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade” dos Poderes brasileiros. A nota do Itamaraty representa a resposta mais contundente do governo Lula (PT) às recentes declarações de autoridades estadunidenses sobre processos judiciais em curso no país.

“O governo brasileiro deplora e rechaça, mais uma vez, manifestações do Departamento de Estado norte-americano e da embaixada daquele país em Brasília que caracterizam nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do Poder Judiciário brasileiro”, diz o texto.

O documento assinado pelo ministro Mauro Vieira ainda afirma que tais manifestações “não condizem com os 200 anos da relação de respeito e amizade entre os dois países”.

A reação brasileira ocorre após declarações do subsecretário do Departamento de Estado dos EUA, Darren Beattle, que na segunda-feira (14) vinculou a taxa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros a decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e supostas ações do governo Lula contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A embaixada dos EUA no Brasil reforçou o posicionamento, afirmando que as tarifas e declarações de Trump são respostas a “ataques contra Jair Bolsonaro”.

O ex-presidente enfrenta atualmente um julgamento no STF por suposta liderança de uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado em 2022, com penas que podem chegar a 43 anos de prisão.

Darren Beattle, subsecretário do Departamento de Estado dos EUA. Foto: reprodução

Esta não é a primeira vez que autoridades americanas se manifestam sobre assuntos internos brasileiros. Em fevereiro, o Bureau de Assuntos para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado já havia classificado decisões do ministro Alexandre de Moraes contra plataformas digitais como “censura”. Posteriormente, o secretário de Estado Marco Rubio chegou a sugerir a possibilidade de sanções contra o ministro brasileiro.

O Itamaraty destacou que o governo brasileiro vem negociando relações comerciais com os EUA desde março, antes mesmo do anúncio das tarifas por Trump. A medida comercial, que afeta diretamente setores estratégicos da economia brasileira, tem sido interpretada por analistas como uma tentativa de pressão política sobre o Judiciário brasileiro.

Leia a nota na íntegra: 

Manifestações indevidas do governo norte-americano

governo brasileiro deplora e rechaça, mais uma vez, manifestações do Departamento de Estado norte-americano e da embaixada daquele país em Brasília que caracterizam nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do Poder Judiciário brasileiro. Tais manifestações não condizem com os 200 anos da relação de respeito e amizade entre os dois países.

No que se refere ao comércio, o Brasil vem negociando com autoridades norte-americanas, desde março, questões relativas a tarifas, de interesse mútuo, e está disposto a dar sequência a esse diálogo, em benefício das economias, dos setores produtivos e das populações de ambos os países. A equivocada politização do assunto não é de responsabilidade do Brasil, país democrático cuja soberania não está e nem estará jamais na mesa de qualquer negociação.