Já era mesmo tempo de acabar a aliança PT-PMDB

Atualizado em 2 de fevereiro de 2015 às 11:12
O triunfo do atraso
O triunfo do atraso

Durou o que tinha que durar a melancólica aliança entre PT e PMDB na Câmara dos Deputados.

Ela começou a ruir quando Dilma se incomodou com o monumental preço a pagar por ela: não mexer no âmbito da Câmara em nada que ameaçasse velhos e irremovíveis privilégios.

E, por extensão, praticar o que existe de mais arcaico e deletério na política: o clientelismo que é a alma, o corpo, o tudo e o nada do PMDB.

Foi uma parceria que não elevou o PMDB e rebaixou o PT.

Cansada do custo de ter o PMDB ao lado, Dilma agiu a partir de determinado momento como alguém que não suporta mais um casamento mas não sabe exatamente como rompê-lo. Foi deixando claro o enfado, o desprezo pelo laço que a prendia — e ao país — a tanto atraso.

Eduardo Cunha aglutinou então, no PMDB, o batalhão dos descontentes e desprezados. O desfecho se deu ontem.

Não estava escrito, mas desde o princípio estava entendido que o apoio do PMDB a Dilma não seria mantido caso a pauta do governo abrangesse itens essenciais à sobrevida dos peemedebistas, como o financiamento privado das campanhas e a regulação da mídia.

O PMDB não sobrevive sem os milhões de reais que vão dar nele para defender uma agenda conservadora. E a regulação acabaria com o coronelismo eletrônico da elite do partido.

A situação, agora, é curiosa.

As Jornadas de Junho mostraram que o país já não suporta o tipo de política representado pelo PMDB.

E a eleição de Eduardo Cunha é a negação do desejo de renovação demonstrado nas manifestações.

Isso leva a uma conclusão: o futuro da agenda política nacional vai ser decidido nas ruas.

Para que o conservadorismo do PMDB não faça o relógio andar para trás, os movimentos sociais vão ter que se mexer.

A militância petista, nestes anos todos de Lula e Dilma, ficou em casa, temerosa de atrapalhá-los.

Agora, os militantes vão ter que tirar o traseiro do sofá – e não apenas para defender causas progressistas.

Trata-se, também, de proteger a democracia e impedir que prosperem ambições golpistas expressas numa palavra sinistra: impeachment.

Foi fácil derrubar Collor porque ele não tinha sustentação nenhuma nem nos partidos e nem na sociedade.

Seria muito mais complicado tentar o mesmo com Dilma – mas isso tem que ficar evidente para quem porventura pretenda enterrar 54 milhões de votos.