Já imaginou Bolsonaro mandando homenagear Ustra na cédula de real? Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 19 de fevereiro de 2021 às 13:04

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Bolsonaro com livro do comandante Brilhante Ustra

Por Luis Felipe Miguel

Outro dia me toquei de que até agora não tive a alegria de encontrar um lobo guará – a cédula de 200 reais, digo.

Sou do tempo em que o dinheiro homenageava personalidades históricas. Lembro do Floriano Peixoto na nota de cem cruzeiros, que a inflação logo substituiu pelo Barão do Rio Branco na nota de mil. Teve Castello Branco, Ruy Barbosa, JK. A partir de Sarney, foram em geral artistas e escritores: Villa-Lobos, Machado de Assis, Portinari, Drummond, Cecília Meireles.
Quando o real inaugurou a opção pela fauna, achei que era uma demonstração de covardia diante da história. Mas agora acho bom. Já pensaram o elenco de rostos que Bolsonaro nos faria carregar nos bolsos? Provavelmente Borba Gato, Joaquim Silvério dos Reis, Filinto Müller, Delegado Fleury, Ustra e Odete Roitman.
Por outro lado, não sei se eu saberia escolher quem homenagear. Afinal, os brasileiros que eu admiro são todos pessoas que careciam de dinheiro ou lutavam contra quem tinha – frequentemente, os dois. Seria estranho ver Gregório Bezerra, Carolina Maria de Jesus ou Paulo Freire ao lado de cifrões.
Pensando bem, é melhor ficar com os bichinhos. Mas tenho uma sugestão a fazer para nossas autoridades monetárias (a Casa da Moeda privatizada e o Banco Central “independente”), para quando forem lançar uma nova cédula. Imagino que seja logo, porque a médio e longo prazos uma nota de 500 reais se revela mais eficiente do que cuecas XXXL.
Em vez de ficar na fauna local, escolher um animal estrangeiro, mas que simboliza o Brasil no atual momento histórico: o lemingue. Um roedor que corre para se atirar do alto do precipício – não dá para imaginar uma metáfora mais precisa

(Na verdade, a história dos lemingues suicidas é uma fraude criada por um documentário da Disney dos anos 1950. Melhor ainda. O animal encarna outra característica do Brasil atual, que é o triunfo das fake news.)