“Já pegou fogo, quer que eu faça o quê?”: a normalização da brutalidade mental fascista por Bolsonaro. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de setembro de 2018 às 11:21

Jair Bolsonaro fez um comentário bastante elucidativo sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional no último domingo.

“E daí? Já está feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê? O meu nome é Messias, mas eu não tenho como fazer milagre”, falou.

Na sequencia lamentou a “demagogia” sobre a tragédia, no que foi aplaudido por seus seguidores. 

“SEM ESQUECER QUE O CRÂNIO DO PT ESTÁ SOLTO… É MUITO INCÊNDIO NOS ÚLTIMOS 8 ANOS”, zurra um sujeito em caixa alta.

Bolsonaro é a normalização da estupidez e da brutalidade. Dá voz aos baixos instintos e os legitima.

Sua ignorância, terceirizada nos apelos ao “Posto Ipiranga”, viram piada carinhosa para bolsominions.

Um de seus filhos que mamam no dinheiro público, Carlos, vereador no Rio, conseguiu chutar que “existiram muitos outros bons presidentes militares mundo afora, como Churchill e Reagan”.

A glorificação da burrice e da violência fascistas foi tema de uma bela coluna do escritor Fintan O’Toole no Irish Times.

Referindo-se a Donald Trump, ele fala dos ensaios fascistas que servem a dois propósitos.

“Eles acostumam os indivíduos a algo que inicialmente rechaçariam; e também permitem que se refinam e calibrem as ações”, afirma.

“O fascismo não surge de repente em uma democracia consolidada. Não é fácil convencer as pessoas a desistirem de seus ideais de liberdade e civilidade”.

Segundo O’Toole, “é preciso enfraquecer as barreiras morais, acostumar as pessoas a aceitarem fatos de extrema crueldade. Como os cães de caça, é preciso acostumá-las ao gosto do sangue. Elas precisam experimentar a selvageria.”

Bolsonaro foi acostumando os ouvidos dos brasileiros com ignomínias sobre negros, gays, mulheres, democracia, cultura.

O sujeito foi aplaudido numa sabatina da Confederação Nacional da Indústria — não pelas ideias, que não as tem, mas pelas bravatas.

“Não quero botar um busto do Che Guevara no Palácio do Planalto”, falou, como se isso fizesse algum sentido.

No programa de Mariana Godoy, sugeriu que Vladimir Herzog pudesse ter se suicidado.

“Lamento a morte dele, em que circunstância, se foi suicídio ou morreu torturado. Suicídio acontece, pessoal pratica suicídio”, afirmou.

Herzog era “um colaborador” e o pessoal se “vitimiza”. “Essa é uma história que passou”, alega.

Milhões estão aprendendo a pensar o impensável, aponta O’Toole.

“Eles já cruzaram, em suas mentes, os limites da moralidade. Eles são, como Macbeth, ‘aprendizes nesse ofício’. Entretanto, esses testes serão refinados, os resultados analisados, os métodos aperfeiçoados, suas mensagens acentuadas”, avisa.

“Só então suas façanhas poderão ser realizadas”.