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Jabuti não sobe em árvore: como o picareta Marco Feliciano foi parar na Comissão de Direitos Humanos

A triste história de um pastor homofóbico e racista e uma comissão desprestigiada.

Feliciano em ação na Câmara

Um ditado sábio diz que jabuti não sobe em árvore. Se está lá, alguém o colocou. Serve para a empresa em que você trabalha e para o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Feliciano é barra pesada – mas antes disso vale a pena tentar entender como ele chegou aonde chegou. Foi eleito presidente com 11 votos, um a mais do que o necessário. O colegiado tem 18 parlamentares titulares.

A “distribuição” do comando das comissões vai de acordo com o tamanho da bancada de cada legenda. Os líderes partidários escolhem aquelas que sua sigla quer presidir. A CDH foi a penúltima a ser escolhida, o que dá uma dimensão de seu prestígio. “Não foi o PSC que quis a comissão”, disse o deputado André Moura. “Nós gostaríamos de permanecer presidindo a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Mas não foi possível”.

A CDH era chefiada pelo PT. O partido desistiu dela para pegar outras comissões e criou espaço para o aliado PSC, da bancada evangélica. Nunca se ouviu falar de nada que a CDH tenha feito em prol de ninguém. É mais ou menos como o Ministério da Pesca, que não criou mais peixes ou pescadores. Sua função é acomodar políticos. Ela foi criada em 1995 e, de acordo com o site oficial, “recebe anualmente, em média, 320 denúncias de violações dos direitos  humanos”, a maioria referentes a detenções arbitrárias, seguidas de violência policial e violência no campo.

Mas lida com muito dinheiro, coisa a que o pastor Feliciano está acostumado. Um “programa de proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas” tem orçamento, em 2013, de R$ 35.863.432, com a proposta de uma emenda para aumentar para R$ 200.000.000. Outro programa, este de políticas para as mulheres, tem um valor de R$ 11.778.750,00.

Não é de hoje que Marco Feliciano tem posições firmes sobre homossexuais, mulheres e negros (ainda não se sabe o que ele acha dos índios, mas logo MF encontrará uma passagem bíblica dizendo que eles foram expulsos do bar porque o Senhor não aprovou suas tangas). Publicou nas redes sociais que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato”. (“Fato”, nesse caso, deve ser entendido como as “verdades científicas” do nosso querido Malafaia). Escreveu que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”.

Dono da igreja Avivamento, está sendo processado por estelionato. Recebeu R$ 13,3 mil para realizar dois cultos religiosos no Rio Grande do Sul e deu o cano. Alegou que ficou doente, mas na verdade estava se apresentando no Rio de Janeiro. A organizadora do evento pede R$ 950 mil de indenização. Também responde a ação no STF por homofobia.

Natural de Orlândia, interior de São Paulo, tem pinta de cantor de churrascaria, com cabelo lambuzado de gel, penteado para trás, e um mullet. O vozeirão é uma arma e ele sabe disso, como Tim Maia. Está em seu site: “Antes de ser cativado pela simpatia pessoal e pela simplicidade (sic), a oratória e a eloquência surpreendente marcam sua personalidade. Todos que têm a oportunidade de ouvi-lo ficam impressionados com a vastidão de seus conhecimentos e as profundas convicções humanistas defendidas com afinco”. Essa potência vocal pode ser apreciada no clássico vídeo em que MF exige saber a senha do cartão de um fiel, o hoje famoso Samuel. MF afirmou, hoje, que estava “brincando”.

Caso você tenha se interessado, para ser sócio da Avivamento é preciso pagar dízimos de R$ 30, R$ 60 ou R$ 100. Calma. De acordo com MF, está tudo no Evangelho de São Marcos, capítulo 4, versículo 3, que trata de Jesus em busca de semeadores.

Um homem de estilo

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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