Jair Bolsonaro disse que a crise com a China é página virada, mas deu declarações ambíguas. Perguntado se culpava a China pela pandemia do coronavírus, disse que não podia dar opinião. Ou seja, pensa como Eduardo Bolsonaro, que atacou o governo chinês pela surgimento do vírus. Se não fosse assim, bastaria dizer não.
“Eu tenho ouvido há dois meses por vocês que o vírus teria nascido na China”, afirmou.
Um repórter insistiu:
“O senhor acredita que é culpa da China, como o deputado Eduardo falou?”
“Não manifesto opinião sobre o assunto como chefe de estado. Vocês têm dito e escrito constantemente que esse vírus nasceu em Wuhan, na China”.
Ou seja, é culpa da China, na opinião dele.
Perguntado se pediria desculpas ao governo chinês, irritou-se e devolveu a pergunta ao repórter:
“Eu cometi algum crime? Eu fiz alguma acusação? Me responde aí. Por que você não pede desculpa então? Por que você não pede desculpa?”
Para o governo chinês, a página não foi virada e se tornou assunto de estado.
Tanto que hoje o porta-voz da diplomacia chinesa se manifestou e considerou “imorais” e “irresponsáveis” as declarações do filho do presidente brasileiro.
A manifestação do porta-voz representa que a crise subiu um patamar. Não é apenas o embaixador chinês no Brasil que responsabiliza Eduardo Bolsonaro — e exige retratação do governo brasileiro.
Essa crise colocou o país, definitivamente, na rota de colisão com a China.
O tom deve aumentar.
E a razão é o alinhamento automático do governo Bolsonaro aos Estados Unidos, que travam guerra comercial com a China.
Eduardo Bolsonaro reproduziu o que pensa Donald Trump.
O pai de Eduardo, pela declaração que deu hoje, tem a mesma interpretação.
Agem como lacaios do presidente de uma potência estrangeira.
Num momento em que o mundo deve mergulhar na pior recessão da história, as boas relações com a China deveriam ser consideradas prioridade.
Não apenas por conta da parceria comercial que fez do país asiático o maior comprador de produtos brasileiros.
O Brasil precisa de investimento externo para obras de infraestrutura. E a China já tinha se manifestado no sentido de fazer esses investimentos.
Com essa hostilidade, fica mais difícil.
É preciso encontrar uma solução política para a instalação de um cordão sanitário em torno da família Bolsonaro.
A queda do presidente, num processo de impeachment, é demorada. Mas, pela conjuntura atual, inevitável.
O primeiro passo é cassar Eduardo Bolsonaro e passar ao mundo a mensagem de que 210 milhões de pessoas não são reféns de políticos “imorais” e “irresponsáveis”, que agem como serviçais do presidente dos Estados Unidos.
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Veja o vídeo da entrevista de Bolsonaro hoje na saída do Alvorada. A parte da China está logo no começo e termina com 1 minuto e 43 segundos: