Jair Bolsonaro é tão irresponsável, inconsequente e imoral quanto o filho Eduardo. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 20 de março de 2020 às 12:32
Eduardo e o pai, Jair

Jair Bolsonaro disse que a crise com a China é página virada, mas deu declarações ambíguas. Perguntado se culpava a China pela pandemia do coronavírus, disse que não podia dar opinião. Ou seja, pensa como Eduardo Bolsonaro, que atacou o governo chinês pela surgimento do vírus. Se não fosse assim, bastaria dizer não.

“Eu tenho ouvido há dois meses por vocês que o vírus teria nascido na China”, afirmou.

Um repórter insistiu:

“O senhor acredita que é culpa da China, como o deputado Eduardo falou?”

“Não manifesto opinião sobre o assunto como chefe de estado. Vocês têm dito e escrito constantemente que esse vírus nasceu em Wuhan, na China”.

Ou seja, é culpa da China, na opinião dele.

Perguntado se pediria desculpas ao governo chinês, irritou-se e devolveu a pergunta ao repórter:

“Eu cometi algum crime? Eu fiz alguma acusação? Me responde aí. Por que você não pede desculpa então? Por que você não pede desculpa?”

Para o governo chinês, a página não foi virada e se tornou assunto de estado.

Tanto que hoje o porta-voz da diplomacia chinesa se manifestou e considerou “imorais” e “irresponsáveis” as declarações do filho do presidente brasileiro.

A manifestação do porta-voz representa que a crise subiu um patamar. Não é apenas o embaixador chinês no Brasil que responsabiliza Eduardo Bolsonaro — e exige retratação do governo brasileiro.

Essa crise colocou o país, definitivamente, na rota de colisão com a China.

O tom deve aumentar.

E a razão é o alinhamento automático do governo Bolsonaro aos Estados Unidos, que travam guerra comercial com a China.

Eduardo Bolsonaro reproduziu o que pensa Donald Trump.

O pai de Eduardo, pela declaração que deu hoje, tem a mesma interpretação.

Agem como lacaios do presidente de uma potência estrangeira.

Num momento em que o mundo deve mergulhar na pior recessão da história, as boas relações com a China deveriam ser consideradas prioridade.

Não apenas por conta da parceria comercial que fez do país asiático o maior comprador de produtos brasileiros.

O Brasil precisa de investimento externo para obras de infraestrutura. E a China já tinha se manifestado no sentido de fazer esses investimentos.

Com essa hostilidade, fica mais difícil.

É preciso encontrar uma solução política para a instalação de um cordão sanitário em torno da família Bolsonaro.

A queda do presidente, num processo de impeachment, é demorada. Mas, pela conjuntura atual, inevitável.

O primeiro passo é cassar Eduardo Bolsonaro e passar ao mundo a mensagem de que 210 milhões de pessoas não são reféns de políticos “imorais” e “irresponsáveis”, que agem como serviçais do presidente dos Estados Unidos.

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Veja o vídeo da entrevista de Bolsonaro hoje na saída do Alvorada. A parte da China está logo no começo e termina com 1 minuto e 43 segundos: