Janderson, o “Sri Prem Baba”, virou guru dos coxinhas ao garantir que eles nunca perderão privilégios. Por Bruno Verson

Atualizado em 28 de dezembro de 2017 às 7:07
Janderson com o ator Márcio Garcia

POR BRUNO VERSON, jornalista com passagens por Estadão, Folha, iG, O Globo e Abril

A homilia de Natal do Papa Francisco não foi apenas uma bênção. Foi um soco na boca do estômago de quem considere a desigualdade, o desemprego, e o sofrimento de muitos parte da engrenagem do sistema.

Um mal necessário, como definiu uma ex-colunista da GloboNews.

“Enquanto sopram no mundo ventos de guerra e um modelo de progresso já ultrapassado continua a produzir degradação humana, social e ambiental, o Natal lembra-nos o sinal do menino convidando-nos a reconhecê-lo no rosto das crianças, especialmente daquelas para as quais, como sucedeu a Jesus, “não há lugar na hospedaria”.

“Vemos Jesus nas crianças da Síria, da África, Somália, Burundi, Congo, Nigéria”, lembrou o Papa.

Seria algo chocante e até transformador se o texto do Papa fosse repercutido como ele é: uma crítica contundente ao capitalismo e ao desprezo às minorias.

Mas, no Brasil pós golpe, vivemos no mundo invertido. Aqui, um outro “religioso” desperta mais atenção do que o Papa Francisco e sua mensagem humanitária em prol dos mais pobres.

Trata-se de Janderson Fernandes, ou Sri Prem Baba. Não que ele tenha algo além de platitudes para dizer. Ou que sua história represente uma autêntica jornada do herói. Ao contrário.

Ele foi office boy e trabalhou num frigorífico. Fez psicologia em uma faculdade particular e começou na ioga porque queria ser igual ao Bruce Lee, mas “não tinha abertura pélvica”.

Foi numa aula que teve um transe, viajou para a Índia de lua de mel (ninguém é de ferro) e conheceu seu mestre.

O que faz de Baba uma celebridade não é sua mensagem, nem o que ele desperta nas pessoas. Baba só empresta um verniz sagrado ao projeto da elite de se manter de pé após 2018. Um deles é o Renova Brasil. Bara dará bolsa e irá treinar candidatos para concorrerem a uma vaga de deputado federal.

Entre os líderes do Renova estão Luciano Huck, Abílio Diniz e Carla Zambelli – a “empresária” que tentou tumultuar a audiência com Taclá Duran e recebeu voz de prisão do deputado Paulo Pimenta, do PT.

Ou seja, Baba só virou uma celebridade religiosa por que se atrelou à elite que pretende varrer qualquer pensamento de esquerda do país. Fosse ele perambular com Lula pelo Nordeste ou se encontrar com Ciro Gomes, viraria motivo de piada.

Como abraçou Aécio, Huck, Diniz e toda essa gente que se pela de medo de perder privilégios, ganhou mais mídia no Natal que a homilia de Francisco.

É o novo normal brasileiro. Um sujeito que acredita no hoax de que o Papa Francisco deu um exemplar de um livro de Osho para Obama.

Que começou sua “jornada do herói” para ser igual a Bruce Lee ganha status de “líder humanitário”, sem dizer uma vírgula sobre desigualdade.