Janine ao DCM na TVT: “Há um paternalismo com a periferia. As pessoas se acostumaram com políticas sociais”

Atualizado em 24 de outubro de 2016 às 10:41
Janine
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O ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, escreveu um post no Facebook sobre a vitória de João Doria, do PSDB, em São Paulo, que virou polêmica.

“Durante doze anos, os dois mandatos de Lula e Dilma 1, o PT fez uma série de políticas que beneficiaram – muito – os mais pobres”, disse. “Mas bastou a grana faltar e os mais pobres se mandaram. Votaram em massa no Doria”.

“A outra interpretação é: eles realmente não estão ligando. Parou a grana, eles mudaram de lado.  Esta interpretação tem uma vantagem: trata-os como adultos. Respeita o voto deles como uma decisão consciente. E pára de ter pena deles”.

Janine falou com o DCM na TVT sobre a eleição de Doria, a votação que o tucano teve nos bairros mais carentes e essa ideia de paternalismo.

“Não imaginava a vitória esmagadora. Ao contrário, pensava que seria um candidato no 2º turno que seria desconstruído porque não via muita consistência nele.

Penso que uma das razões para isso foi, como costuma acontecer, que todo mundo cai matando no candidato à reeleição.

O candidato que representava a alternativa mais radical à prefeitura, Doria, mais oposta ao que tinha sido feito, levou. Haddad se aproximava do que é chamado piso histórico do PT em São Paulo, calculado entre 20%, 25%. Aí se dizia muito que a periferia ainda não sabe que ele é candidato. Há um certo paternalismo, uma condescendência com essa ideia.

Já são 20, 30 vezes em que as pessoas foram às urnas num ambiente democrático a partir do final de 1985. As pessoas são responsáveis pelas escolhas. Não temos mais prefeito, presidente por imposição militar, imposição externa.

Existe o voto com todos os problemas de uma eleição, com todas as manipulações, todas as mentiras. As pessoas têm que ser capazes de enfrentar isso e de perceberem que isso traz resultados para a vida delas.

Você pode olhar uma campanha eleitoral de duas maneiras: onde o partido que perdeu errou. Mas você pode olhar de outra maneira, mais legítima: o que os eleitores quiseram e o que eles conseguiram.

Se a gente insistir em culpar o partido pelo resultado, a gente vai ser paternalista.

Você não ajuda nada a emancipação das pessoas em situação de vulnerabilidade, de humilhação, de pobreza, se não atribuir a elas a responsabilidade por seus atos.

Você sente que a sociedade brasileira se acostumou, durante 12 anos de governos petistas, a receber muito dinheiro em políticas sociais e, entrando em crise, os próprios beneficiários dessas políticas sociais não se dão conta do que aconteceu”.