
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, concedeu entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Na conversa, revelou que já pensou em deixar Brasília diante das dificuldades da rotina no Planalto e também comentou sobre Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e hoje figura política em ascensão no campo conservador. Leia trechos:
Dois anos e meio depois da posse, parece que você está hoje mais recolhida do que no começo do governo.
Recolhida? Não. Eu tenho trabalhado muito, andado muito e viajado muito. Tenho feito muitas reuniões.
Talvez eu tenha saído um pouco do foco [das outras pessoas]. Talvez, finalmente…Eu acho que as pessoas tiraram um pouco desse foco ruim para colocar um pouco de luz boa no que a gente faz (…)
Na campanha e no começo do governo, você cantava, dançava. Agora você se comporta com um pouco mais de liturgia. Ou não?
Eu continuo com o mesmo espírito. Historicamente a primeira-dama é colocada em uma caixinha, para fazer filantropia, visitar obras sociais. Quiseram me colocar numa caixinha, mas desde o começo eu falei que esse não é o meu perfil.
A caixinha estava pronta para eu entrar. A minha recusa de entrar nessa caixinha é que criou toda essa série de questões sobre o meu posicionamento. Não só internas do governo como externas, da própria imprensa, de mulheres jornalistas.
E me parecia ilógico mulheres jornalistas criticarem o fato de eu querer fazer diferente do combinado historicamente pelos homens.
Eu nunca entrei na caixinha. Toda hora querem me empurrar para dentro da caixinha. E eu sempre digo “ali, não. Não vou entrar nessa caixinha”.
Mas deixa eu te falar uma coisa importante. Eu sou uma pessoa normal. É óbvio que todos os ataques que eu sofri, principalmente do meio do ano, até o final do ano [passado], é claro que me deixaram desestruturada [Janja se emociona].
Teve um momento em que eu quis pegar a minha bolsa e as minhas cachorras e sair, voltar para a minha casa. “Vou ficar lá”.
Eu acho que isso deve ter acontecido com muitas primeiras-damas [no passado]. Muitas. E muitas também se fecharam por conta disso. Porque hoje a gente tem internet, mas os ataques sempre aconteceram. (…)
No próximo ano, teremos uma campanha presidencial. E uma figura feminina, Michelle Bolsonaro, será central nos debates, qualquer que seja o cargo que ela dispute. Ela já chamou o presidente Lula de pinguço, e é muito difícil para um político homem, como Lula, rebater uma mulher na mesma moeda.
Sinceramente, eu não estou preocupada com a figura dela, tá? Eu já disse que falo [as coisas] sem precisar xingar o marido de ninguém. Eu jamais faria isso.
Mas, na campanha, se houver ataques, você vai responder a ela?
Qualquer você pessoa que ataque o meu marido, eu me sinto no direito de protegê-lo. Ele não precisa de proteção. Mas eu me sinto no direito. Eu não vou deixar ninguém atacar ele, seja homem ou seja mulher.
Dependendo do nível de ataque, é óbvio que eu vou me colocar.
Eu espero que ela tenha ética para saber o papel que ela tem. Eu espero que não se repita o que ela fez. Porque para nós, mulheres, o comportamento dela é muito ruim. Não é sobre ela. É sobre as mulheres.
Já somos muito atacadas. Já temos dificuldade de alcançar lugares de decisão e poder. E quando a gente alcança, precisa ter muita responsabilidade no que faz e fala. E aquele comportamento dela não é o que a maioria das mulheres espera.

Qual será o seu papel na campanha de 2026?
A minha disposição, desde o começo do governo, foi a de conversar com as mulheres. É uma pauta fundamental para mim. Tenho feito isso ao longo desses dois anos e meio de governo. E vou continuar fazendo. As mulheres querem conversar.
Eu tenho conversado com grupos de mulheres evangélicas, por exemplo. Neles, a gente não fala sobre religião, porque não é sobre isso. A minha preocupação é entender como elas olham para nós e como as políticas públicas do governo impactam, ou não impactam, a vida delas.(…)