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Jesus entraria no novo Templo de Salomão?

 

O Templo de Salomão finalmente está de pé.

É um monstro com 35 mil metros quadrados (a área coberta da Basílica de Aparecida tem 18 mil). A Exame fez uma lista das curiosidades: 40 mil metros quadrados de pedras importadas de Hebron (em Israel), doze oliveiras do Uruguai, cadeiras da Espanha. Um museu, chamado de Memorial, contará a história das 12 tribos perdidas.

Edir Macedo deixou a barba crescer até a coisa ficar pronta. Estava pagando uma promessa. Pregou lá em uma das inaugurações. O bispo mudou o figurino: agora usa sobre os ombros uma espécie de manto curto branco com detalhes em azul claro, preso por uma corrente no pescoço; na cabeça um solidéu maior que o modelo usado pelos judeus, parecido com aquele que é utilizada por muçulmanos.

A obra custou, oficialmente, 680 milhões de reais e levou quatro anos para ser construída. O dinheiro, oficialmente, veio de doações de fieis de todo o mundo.

Macedo mandou construir ali um túmulo especial, onde ele será enterrado — como os faraós e como Sarney, que tem um mausoléu em sua “fundação” no Maranhão.

A capacidade é para 10 mil pessoas. A ideia é ser uma réplica do templo em Jerusalém que foi destruído duas vezes na Antiguidade. A primeira por Nabucodonosor, da Babilônia, em 586 a.C. (a obra era de autoria do próprio rei Salomão, filho de Davi).

A segunda versão foi erguida em 164 a.C. e derrubada pelos romanos em 70 d.C.

O grande homenageado ali é, obviamente, o próprio Edir Macedo, que se eterniza como o Maluf do neopentecostalismo. O Templo de Salomão é o seu Minhocão, um atestado de poder e glória terrenos.

Jesus é pobre demais para entrar. Nos bons tempos, ele expulsou os vendilhões, reclamando que estavam transformando sua casa em um “covil de ladrões”.

Ele profetizou a derrocada. O Evangelho de Mateus, capítulo 24, diz o seguinte: “Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções. Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído”.

Batata. Mas isso foi há dois milênios. Se tivesse sido consultado agora, provavelmente aconselharia: “Pra que isso, Edirzão…? Olha as crianças com fome, malandro”. Como não tem nada a ver com o negócio, o templo da Universal vai durar mil anos numa cidade que já tem a estátua do Borba Gato.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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