JN denuncia “Caso Cuca” depois de a Globo acobertar o técnico como comentarista. Por Luan Araújo

Atualizado em 28 de abril de 2023 às 23:51
Cuca, no centro, acompanhado da equipe que cobriu a Copa da Rússia pelo Sportv. Reprodução Twitter

Cuca não é mais técnico do Corinthians desde quarta-feira, quando pediu demissão após a vitória alvinegra contra o Remo, que classificou o clube para as oitavas de final da Copa do Brasil. Mas o motivo pelo qual saiu, protestos de torcedores por conta de uma condenação de estupro coletivo contra uma menina de 13 anos em 1987, continua bem vivo.

Nesta sexta-feira, o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu uma matéria que mostra uma entrevista com Barbara Studer, diretora da justiça do Estado do Cantão de Berna, capital da Suíça, que mostrou um documento confirmando que havia sêmen de Cuca no corpo da adolescente.

Sem dar nenhuma informação inédita do caso para não violar o sigilo do processo, ela confirmou que fazem parte do processo informações publicadas em jornais suíços que cobriram o caso na época, como a presença do sêmen de Cuca no corpo da vítima, a tentativa de suicídio por parte da adolescente e o fato de ela ter reconhecido Cuca como um dos autores do ato.

Cuca negou esta informação na sexta-feira passada, quando foi apresentado como técnico do Corinthians. E também em outras oportunidades em que foi perguntado sobre o caso ao longo destes 36 anos. A questão que fica é: por que o trabalho jornalístico começou só neste momento?

A própria Globo, emissora que noticiou esta confirmação, poderia ter feito isso. Não o fez. Inclusive, empregou Cuca por um rápido período como comentarista na Copa de 2018, na Rússia. Como técnico de clubes importantes do futebol brasileiro, o entrevistou em tantas outras oportunidades. Jornais da época trataram Cuca e seus colegas de Grêmio, presos na época, como heróis na volta ao Brasil.

Até o distanciamento temporal não mudou esse tratamento. 10 anos depois do caso, em 1997, a Revista Placar, da Editora Abril, olhava com forma jocosa sobre a história. Tratou o ocorrido como uma “festa de arromba”, como mostra o recorte abaixo:

Recorte da Revista Placar . Reprodução

Em outra oportunidade, a mesma revista entrevistou Cuca, em 1998. Na oportunidade, o então meia agradeceu Luiz Felipe Scolari, técnico do Grêmio em 1987, que intercedeu por ele e não o afastou do elenco. Por que nunca houve questionamentos para Felipão, que manteve os agressores em seu elenco?

Recorte da Revista Placar. Reprodução

A realidade, é que se não fosse parte barulhenta da torcida do Corinthians e um manifesto contundente da equipe feminina do clube, que agora sofre ataques de ditos corinthianos nas redes sociais, um clube que por si só já traz uma repercussão imensa, o jornalismo não agiria novamente, como não agiu nestes últimos 36 anos.

É possível parabenizar o trabalho de repórteres que hoje apuraram o caso, como do UOL e da própria Globo, mas é dever cobrar o porquê desta pauta não ter sido importante para os mesmos veículos ao longo dos anos. Precisava mesmo de toda essa confusão que ocorreu nos últimos dias? Caso a coisa tivesse sido esclarecida antes, eu creio que não.

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