Joanna Maranhão explica por que atletas que batem continência não são automaticamente bolsonaristas

Atualizado em 4 de agosto de 2021 às 14:34
Alison dos Santos presta continência em cerimônia de premiação

Em publicação no Twitter, a ex-nadadora Joanna Maranhão falou sobre o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), criado pelo governo Lula em 2008 para apoiar atletas militares que queriam seguir carreira no esporte.

De acordo com a esportista, o ato de bater continência, que atualmente é um símbolo do bolsonarismo, se popularizou na época em que foi criado o programa, como uma demonstração de respeito aos militares.

A discussão voltou à tona nesta semana, após o brasileiro Alison dos Santos, medalha de bronze nos 400m com barreiras, fazer o gesto durante a cerimônia de premiação. Alison é da Marinha e também faz parte do PAAR.

Leia o depoimento de Joanna Maranhão:

O Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) foi criado em 2008 numa parceria entre o extinto Ministério dos Esportes e o da Defesa, como uma maneira de apoiar atletas militares e também visando os jogos mundiais militares que aconteceriam em 2011 no Rio de Janeiro.

Eu, o judoca Luciano Corrêa e mais uma galera fomos da primeira turma que se formou, em 2009. A gente ficou três semanas na Urca fazendo estágio, aprendendo o básico e nos formamos como terceiro sargento do Exército. Isso é uma política pública que já acontece em outros países, como Rússia e França.

De lá pra cá, o programa cresceu. Tem atleta que representa Exército, Marinha, Aeronáutica. Prestar continência, até quando eu estive no programa (2015), era recomendação como aceno. Tipo “olha ali, aquele atleta é militar”, mas não era obrigatório em competições civis.

Quando a gente representou o Brasil em campeonatos militares, aí era obrigatório. Essa parada de ler o gesto como aceno político e apoio ao capeta que hoje está na Presidência começou em 2015 nos Jogos Pan-Americanos de Toronto.

Inclusive trago esta foto de Luciano após ser bi campeão pan-americano. Ele quis fazer continência. Não era obrigatório e nem apoio a Bolsonaro, os votos dele são bem o contrário disso na verdade.

O judoca Luciano Corrêa costuma prestar continência em competições

Agora, tem atleta que faz porque concorda com presidente? Tem. Muitos, inclusive. Só não acho que é correto generalizar e dizer que TODO atleta do Brasil que presta continência está chancelando e apoiando o anti-vacina lá.

Inclusive, na pandemia, a maioria dos clubes (Pinheiros, Minas, entre outros) diminuíram ou cortaram salário dos atletas. Foi o programa com saldo mensal de R$ 4.500 (acho que é isso, na minha época eram R$ 2.500) que sustentou essa galera.

Sendo assim, nada mais normal que eles citem e agradeçam o programa que, repito, foi criado em 2008 com uma galera do PCdoB à frente da pasta de Esportes.

No final das contas, é aquela baboseira de sempre, né?

A mesma galera que se diz liberal e fala que alto rendimento não pode ter subsídio do governo quer pegar carona no patriotismo de um programa de política pública criado pela oposição.