João Santana e o peso da desonra. Por Fernando Brito

Atualizado em 6 de fevereiro de 2018 às 7:39

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO TIJOLAÇO

As duas fotos aí de cima reproduzem o casal João Santana-Monica Moura do auge de sua fama de marqueteiros e hoje, ao prestarem depoimento a Sério Moro.

Deixo de analisar a mulher que, ao contrário do marido – e não por isso – é pessoa de escasso talento e, ao que se lê de suas declarações, inteligência à altura dos pensamentos.

Fixo-me na aparência do João Santana, o gênio do marketing, arrogante, da foto à esquerda e o homem alquebrado da foto da direita.

É um homem infeliz, desgostoso, em total contraste com a exposição de sua mulher.

Parece estar vivendo no limite do papel que lhe restou.

Ao contrário dela, que acusa direta e pessoalmente, ele se vale de imprecisões, como quem quer ficar no limite entre a mentira e a verdade.

– Quando o Palocci (ex-ministro da Fazenda) falhava, eu tratava com o ex-presidente (Lula). Falei duas ou três vezes, num intervalo do primeiro para o segundo turno (da campanha de 2006). Mas diretamente não. Eu deduzia que ele (Lula) sabia – disse Santana. — Eu sabia por duas razões. Primeiro porque eu não conheci nenhum candidato que não soubesse detalhes da administração financeira de sua campanha. Segundo porque os pagamentos oficiais sempre tiveram margem pequena de atraso. Quando se tratava de atrasos e de valores que ficavam para depois da campanha estava implícito que era caixa 2.

Santana não afirma, “deduz”. Sabia não por ter ouvido, visto, recebido. “Sabia” por suas experiências anteriores de marqueteiro, com outras pessoas, e por questões de calendário.

Revolta-se ao saber que o advogado Rodrigo Tacla Duran disse que ele tinha uma offshore – e tinha – mas trata com absoluta naturalidade – mais, como vítima – ter recebido milhões de reais no exterior.

João Santana é um homem soterrado pelo que está fazendo.

É algo que, só de olhar para ele, dá para ver. É um caco à procura de salvação e, talvez, de perdoar a si mesmo.

E como não pode, o castigo que se impõe sangra em sua própria expressão.

Não há marqueteiro que o disfarce.