Após a tentativa de golpe de Estado de bolsonaristas no último dia 8 de janeiro, jornais da Europa dizem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu fortalecido. “As rebeliões de Brasília podem fortalecer Lula”, afirma o jornal francês Le Figaro, em artigo de Patrick Bèle.
“O novo presidente brasileiro recebeu inúmeros apoios nacionais e internacionais depois dos ataques de domingo”, afirma Bèle. “O assalto contra as instituições democráticas em Brasília por partidários do ex-presidente Bolsonaro, visava a desestabilizar o poder do novo presidente Inácio Lula Silva”, relata o jornal francês.
“Milhares de partidários do ex-presidente, que acampavam desde novembro diante do quartel central do exército em Brasília, percorreram nove quilômetros que lhes separavam do prédio da Corte Suprema, quase escoltados por membros da polícia muito pouco ativos, ou mostrando às vezes seu apoio aos manifestantes. No final, os prédios foram vandalizados e inúmeras obras de arte foram fortemente danificadas”, continua o Le Figaro.
“Esses assaltos violentos contra os símbolos da democracia brasileira deram a oportunidade ao governo de Lula de mostrar sua firmeza, de começar um processo de desmilitarização da função pública, enquadrar e punir os representantes das forças armadas mais extremistas. O distúrbio de Brasília permitiu persuadir os opositores de Lula, anunciando que o caminho democrático é a única opção”, afirma o jornal conservador francês.
“Jair Bolsonaro publicou um vídeo contestando de novo o resultado das eleições, mas ele o retirou em apenas alguns minutos, compreendendo que o clima mudou. As imagens mostravam um procurador questionando a vitória de Lula. A rebelião de Brasília virou o jogo e provavelmente reforçou a legitimidade (de Lula). Os apoios internacionais reforçaram sua credibilidade: da China, aos Estados Unidos, de Moscou a Berlim, de Paris a Caracas, as mensagens de apoio se multiplicaram”.
No mesmo país, o Les Echos, jornal de referência do setor econômico, faz uma leitura semelhante.
“Os brasileiros, bestializados, assistiram domingo ao espetáculo de destruição dos espaços de poder de sua República federal. Essa violência cega chocou vividamente a opinião publica, até nos setores de eleitores de Bolsonaro. O presidente Lula poderia se beneficiar a curto prazo”, diz o artigo “Lula na cabeceira da democracia”, afirma.
“Hoje, o sentimento anti-Lula permanece disseminado em grande parte da população, mas poucos brasileiros aderem à estratégia do caos empregada pelos bolsonaristas radicais. No calor da situação, mais de 75% da população criticou a operação, segundo o Instituto Atlas Intel, enquanto somente 10% aprovou. Alguns dias mais tarde, outro instituto, o Datafolha, afirmou que 93% dos entrevistados se posicionaram contra a invasão e destruição dos espaços de poder e somente 3% se declaram favoráveis a esse tipo de ação”.
“Lula, por sua vez, poderia se beneficiar da situação explosiva. Num gesto forte, ele reuniu primeiramente os governadores dos estados, inclusive os de extrema direita, nos locais do crime. Na presença dos presidentes do Congresso e da Corte Suprema, ele assegurou que o fascismo não passaria”, observa Thierry Ogier, correspondente no Brasil.
“Ele, que havia pregado a reconciliação em sua posse já pode reafirmar sua legitimidade e estender a mão a todos os que rejeitam a tentativa de golpe. Ao mesmo tempo, seu governo, apoiado pelo poder judiciário, imediatamente ordenou uma contraofensiva, que se traduziu por uma onda de repressão: mais de 1.000 prisões, e um mandado de prisão contra o responsável pela segurança de Brasília Anderson Torres”, diz o jornalista.
“Para evitar um novo golpe, as autoridades se empenham em matar a insurreição pela raiz. E fazer com que o clima de polarização não degenere em instabilidade política permanente. Eis a questão dessa crise: a curto prazo, a posição de Lula se encontra reforçada, principalmente graças à união com os poderes legislativo e judiciário. Mas se ele não conseguir controlar a situação e agitação continuar, isso contaminaria seu terceiro mandato e enfraqueceria seu governo”, analisa.
Na Espanha, o jornal La Vanguardia estima que “a insurreição de Brasília reforça Lula pelo desgaste de Bolsonaro”. “O presidente marca território ao recordar a neutralidade das forças armadas”, diz.