
O jornal americano The Wall Street Journal sugeriu que o presidente de extrema-direita da Argentina, Javier Milei, poderia dar aulas a Lula, seu homólogo no Brasil, e chefes de Estado dos demais países da América Latina. Em editorial publicado nesta terça (15), o veículo elogiou os esforços do governo argentino para reduzir o déficit público e restaurar a confiança dos investidores.
O texto elogia a gestão do presidente argentino e afirma que a estabilidade plena ainda depende de um passo decisivo: a adoção do dólar como moeda oficial. “Se Milei conseguir tornar suas reformas de livre mercado um sucesso econômico e político, a lição se espalhará pelo resto da América Latina e além. Seria uma repreensão à onda de populismo de esquerda que causou problemas desde o Brasil até a Colômbia, Venezuela e América Central”, diz o editorial.
O Wall Street Journal argumenta o pacote de medidas fiscais e de desregulamentação lançado pelo governo argentino, que inclui cortes de gastos e redução da máquina pública. Segundo o jornal, o esforço de Milei para equilibrar as contas é visto por investidores estrangeiros como um teste de credibilidade para o país, que enfrenta décadas de inflação alta e instabilidade cambial.
No último dia 9, o Tesouro dos Estados Unidos interveio no câmbio para conter a queda do peso argentino, comprando a moeda local e criando um mecanismo de swap cambial de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 110 bilhões) em parceria com o Banco Central da Argentina. A medida, segundo o jornal, oferece um “alívio temporário”, mas não resolve o problema estrutural da confiança no peso.

O editorial diz que a população argentina continua preferindo guardar dólares, mesmo diante dos anúncios de austeridade fiscal. Para o veículo, a dolarização seria o único caminho capaz de restaurar a credibilidade monetária do país e atrair investimentos de longo prazo.
O texto cita o exemplo do Equador, que, ao adotar o dólar em 2000, conseguiu controlar a inflação e estabilizar a economia. “A Argentina pode trilhar caminho semelhante, mas apenas se conseguir disciplinar suas contas e abandonar o peso”, escreve o jornal.
O Wall Street Journal ainda afirma que, caso Milei obtenha êxito, seu modelo poderá servir de lição a países como Brasil, Colômbia e Venezuela. A estabilidade argentina, conclui o texto, poderia demonstrar “o valor da disciplina fiscal e da confiança monetária em uma região historicamente marcada por populismo e instabilidade econômica”.
O texto do jornal americano não mencionou entretanto que, enquanto Buenos Aires recorreu a uma linha de financiamento de US$ 20 bilhões dos Estados Unidos via swap cambial para sustentar suas reservas e evitar crises, o Brasil mantém reservas internacionais robustas, acima de US$ 350 bilhões, e uma política econômica relativamente estável, sem depender de aportes externos emergenciais.