Jornal Nacional manipula opinião pública e não mostra Gilmar reduzindo Nunes Marques a pó. Por César Nogueira

Atualizado em 24 de março de 2021 às 13:08

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William Bonner no JN de ontem.
Reprodução/TV Globo

Por César Nogueira

A edição do Jornal Nacional de ontem merece lugar numa antologia sobre a manipulação da opinião pública pela dita imprensa livre.

Fake news é coisa para amadores.

A família Marinho se viu contrariada pela decisão em que a segunda turma do STF anulou a condenação de Lula no caso do triplex e reconheceu que o processo foi uma farsa comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro e seu parceiro na Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol.

Foram extensamente descritos pelo relator Gilmar Mendes e pelo revisor Ricardo Lewandowski os fatos que evidenciam a má-fé de Moro e seu conluio com a acusação para cercear a defesa de Lula e condenar o ex-presidente a qualquer custo.

Entre outras muitas barbaridades, juiz e procuradores grampearam as conversas de Lula com seus advogados para saber de antemão, e sabotar, o trabalho da defesa.

Na edição da notícia que desagradou o clã dos Marinho, o que fez o JN? Colocou em primeiro plano os votos da minoria, em especial ao voto do ministro bolsonarista Kassio Nunes Marques contra a suspeição de Moro, e apresentou pela metade os argumentos dos votos vencedores.

O voto de Marques mereceu a reprodução de longos trechos de sua argumentação no plenário virtual.

Já os votos de Mendes e Lewandowski, que reduziram Marques a pó, foram apresentados em forma de resumo, e devidamente desidratados, na voz melíflua do âncora William Bonner.

Para disfarçar a manipulação, os editores colocam também trechos vivos dos votos de Mendes, Lewandowski e Carmen Lúcia. Mas não as melhores partes, as mais contundentes.

Ao contrário, reproduzem trechos desimportantes, chatos, sobre questões laterais, e o espectador fica sem entender como argumentos tão frágeis puderam prevalecer no julgamento que condenou Moro e absolveu Lula.

Eduardo Bolsonaro pensa em mandar um cabo e um soldado para fechar o STF quando se sente contrariado. O clã dos Marinho gostaria de instalar sua própria bancada no lugar dos juízes do tribunal.

PS: Não se conclua do que aqui vai dito que o STF é bom e a Globo, má. Sim, a Globo é má, foi cúmplice de Moro e Dallagnol e não cessa de conspirar para impor sua vontade. Mas o Supremo é um serpentário. A decisão de agora do STF é uma bofetada na cara da sociedade brasileira, um escárnio, não por ter absolvido Lula e condenado Moro, mas por ter sido proferida com três anos de atraso, depois de o plano de Moro, Dallagnol, Globo, PSDB et caterva ter se tornado fato consumado — na prisão injustificada do ex-presidente, na fraude eleitoral que levou Bolsonaro ao poder, no aparelhamento do Estado pelos militares fascistas, na destruição da economia brasileira (como mostrou estudo do Dieese), na precarização do mercado de trabalho, nos ataques às liberdades democráticas, no desmatamento criminoso, na desmontagem do SUS e na condução genocida da questão da pandemia etc. etc. A decisão do STF tem menos a ver com a prática da justiça do que com os conflitos entre facções da direita e das elites dominantes. Quaisquer que sejam os motivos que levaram a ela, o importante é tirarmos partido do que nos favorece para avançar na reorganização das forças da esquerda e na luta contra Bolsonaro e os golpistas.

PS’: Os outros grandes veículos da dita imprensa livre, Folha e Estadão, não ficam a dever nada em termos de mau caratismo e manipulação das notícias. A tevê Globo é apenas o espécime mais gordo dessa casta que parasita a sociedade brasileira.