Jornalismo-camelô é o que vende notícia falsa. Por Fernando Brito

Atualizado em 23 de dezembro de 2020 às 11:22

Publicado no Tijolaço

É inacreditável como um jornal que se pretende sério, como a Folha de S. Paulo, não tem vergonha de publicar uma “reportagem” dizendo que “Camelôs vendem vacina falsa contra Covid-19 por R$ 50 no Rio”.

O jornal assume o papelão de fake news absolutamente irresponsáveis sobre a vacina contra a Covid publicando, com base apenas num personagem autodenominado Jones MFjay, aparentemente o típico carioca gozador, que conta ao jornal a história de que, no popularíssimo Viaduto de Madureira, um camelô vende a vacina chinesa Sinovac a R$ 50.

“Mesmo sendo nascido e criado na região durante seus 58 anos, porém, Jones teve que colocar os óculos nesta segunda (21) para acreditar no que viu. “Na minha mão é galo, na minha mão é galo, é a cura da Covid!”, escutou enquanto passava pela passarela que fica em frente à escola Império Serrano e leva à estação de trem.
“Galo” na gíria carioca quer dizer que custa R$ 50, um dos números que representa o animal no jogo do bicho. Ele achou que fosse “algum xarope, algum mato que levanta a saúde do homem ou te faz ver Jesus Cristo, sabe como é que é camelô”.
Mas quando esticou o pescoço por cima do ombro do “coroa” que se juntava no “bolo” em volta do vendedor, se deparou com uma caixa com escritos em (o que parece ser) chinês. Embaixo, se lia “SARS-CoV-2 Vaccine, Inactivated”, uma suposta vacina contra o novo coronavírus.”

O Jones mandou o caô e o jornal embarcou feito um patinho, sem mandar sequer alguém chegar se havia mesmo o tal camelô.

Bastam cinco minutos ou menos de curiosidade para ver que o contador de histórias já tinha “mandado essa”.

No seu Facebook, Jones, duas semanas atrás, já fazia esta “graça” que, você vê abaixo, com a mesma história da vacina de camelô em Madureira, só que com o produto da Pfeizer.

Ao que parece, Jones reeditou a “gozação”, aproveitando-se do fato de um bolsonarista ter publicado sua invenção no Twitter, “chupando fotos” disponíveis na internet, para fazer a história ser publicada na Folha e virar, a partir daí, “viral” – se me perdoam o trocadilho – na internet.

Seria, no final das contas, uma história tipo “boimate” – bobagem publicada como “séria” pela Veja no 1° de abril, dizendo que estavam sendo criados bois cuja carne já continha molho de tomate, por um experimento genético.

Mas estamos no meio de uma pandemia que vai chegando à morte de 200 mil brasileiros e a uma vacina que, por razões políticas, vem sofrendo ataques do Presidente da República e de seus fanáticos apoiadores, falando da “vachina”.

Ainda bem que estou velho o suficiente para ser poupado de ver a morte definitiva do jornalismo.

PS. E, para não ficar atrás, o Estadão embarcou na cascata…