Jornalismo machista do Estadão retoma a artilharia contra Janja. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de novembro de 2025 às 21:13
Lula e Janja da Silva. Foto: Reprodução

Esta é a manchete do Estadão, na capa do jornal desde a madrugada de sábado, sobre mais um ‘escândalo’ no governo Lula:

“Organização que ofereceu cargo a Janja fecha contrato de R$ 28 mi com governo para cobertura da COP-30”.

E esta é a parte do texto que deveria segurar a manchete:

“OEI ofereceu cargo a Janja – No início de 2023, o governo Lula articulou a nomeação de Janja para um cargo na OEI (Organização de Estados Ibero-Americanos). Em abril daquele ano, a entidade anunciou a criação da Rede Ibero-Americana para a Inclusão e a Igualdade, que seria coordenada pela primeira-dama brasileira.
“A socióloga participou da cerimônia na sede da organização, na Espanha, e posou para foto ao lado do secretário-geral da entidade, Mariano Jabonero, mas nunca desempenhou efetivamente qualquer papel no cargo, devido a um recuo do governo”.

Só isso, em dois parágrafos. O começo do texto acima repete no subtítulo (OEI ofereceu cargo a Janja) a informação da manchete. Mas não há nada no texto que segure a manchete.

Reprodução da “Coluna do Estadão”

Não há nenhuma informação, com ou sem fontes, que diga que Janja foi convidada, nem mesmo informalmente, para algum cargo num organismo internacional.

A insinuação no texto, sem provas, é outra, a de que “o governo Lula articulou a nomeação de Janja para um cargo na OEI”. O governo articulou ou Janja foi convidada?

A manchete é uma farsa e pode ser explicada. Eduardo Barretto, que assina o texto na coluna de Roseann Kennedy, tinha informações sobre a contratação de serviços para a Cop-30.

Como sempre, ele, ela e seus colegas dos jornalões consideram que os valores são exagerados, o que é o previsível em todas as abordagens sobre gastos do governo Lula. Nenhuma novidade.

Mas no fim do texto, no encerramento mesmo, como última ‘informação’, o jornalista acrescenta a fofoca que coloca Janja no centro de um ‘escândalo’ que não existe.

O que o chefe de Roseann fez ao formular a manchete é um truque primário, manjado e desleal, muito conhecido em redações de todos os tamanhos.

O editor da manchete, com cargo de comando, puxou a fofoca para o título do alto da página. Mas não teve coragem de conversar com a colunista ou o repórter e puxar também o texto para a cabeça do texto assinado, ou tentou e não conseguiu.

O editor valorizou na manchete o que estava no pé da ‘reportagem’ como mais uma fofoca de colunismo. Sem fontes, sem amarração, sem nada que a sustente. E usou apenas uma foto em que Janja participa de um evento na OEI.

Agora é assim. As manchetes contra Lula são sobre o chefe da ex-nora que teve um Porsche retido ou sobre um primo de segundo grau de um tio do Lula, que mora em Quaraí, envolvido em rolos de dinheiro vivo com um cunhado do sobrinho do Valdemar Costa Neto que mora em Sorocaba.

Está difícil produzir notícias contra Lula. A colunista Roseann Kennedy publicou na sua coluna a fofoca de um repórter. Uma mulher cedeu seu espaço para que os machos das redações voltem a bater com força na mulher de Lula.

Se alguém criticar, foi uma jornalista que publicou. Na linha de que é uma mulher criticando outra mulher. É ruim para o jornalismo cada vez mais irrelevante dos jornalões.

 

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/