Jornalista britânico e indigenista da Funai desaparecem no Amazonas

Atualizado em 6 de junho de 2022 às 13:23

O jornalista Dom Phillips, correspondente do The Guardian, tradicional jornal britânico, está desaparecido no Amazonas. Ele e o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram vistos pela última vez há 24 horas na região da Cabeça do Cachorro, em São Gabriel da Cachoeira, a 850 quilômetros de Manaus.

O desaparecimento foi divulgado através do Twitter por Jonathan Watts, editor de meio ambiente da publicação britânica. O editor pede ajuda às autoridades brasileiras e lembra que o indigenista vinha sendo ameaçado de morte.

Bruno Araújo era alvo de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo juntos aos indígenas contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros. O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos isolados do mundo.

Phillips é um jornalista freelancer britânico que se mudou para o Brasil em 2007. Além do The Guardian, ele já colaborou com grandes jornais como Financial Times, New York Times, Washington Post, Bloomberg, Daily Beast.

Segundo uma nota divulgada pela Univaja, os dois continuam desaparecidos e foram ameaçados ao apurar reportagem no Vale do Javari. Veja a nota abaixo:

“A Coordenação da Organização Indígena UNIVAJA, em nome dos povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina-Pano, Korubo e Tsohom-Djapá e o Opi – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato vêm a público informar que o indigenista Bruno Araújo Pereira, e o Jornalista Dom Phillips, de nacionalidade inglesa e correspondente do Jornal The Guardian, encontram-se desaparecidos, há mais de 24 horas, no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte, pontos de ida e ponto de retorno respectivamente, no estado do Amazonas.

Os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena, para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas. Os dois chegaram no local de destino (Lago do Jaburu) no dia 03 de junho de 2022 às 19:25h. No dia 05/06 os dois retornaram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte, porém, antes pararam na comunidade São Rafael, visita previamente agendada, para que o indigenista Bruno Pereira fizesse uma reunião com o líder comunitário apelidado de “Churrasco”, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetada pelas intensas invasões.

Pelo que consta nas informações trocadas, via Dispositivo de Comunicação Satelital SPOT, eles chegaram na comunidade São Rafael por volta das 06:00h, onde conversaram com a esposa do “Churrasco”, visto que este não estava na comunidade e depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas. Assim,  deveriam ter chegado por volta de 08h/09h da manhã na cidade, o que não ocorreu.

Às 14h, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da UNIVAJA, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, percorrendo, inclusive, os “furos” do rio Itaquaí, mas nenhum vestígio foi encontrado. A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte.

Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado.

Ressalte-se que Bruno Pereira é pessoa experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos. Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, 40 HP, 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem e 07 tambores vazios de combustível.

Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da UNIVAJA, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da UNIVAJA, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”.