Jornalista da Globo nega que Dallagnol revisou seu livro e que deu consultoria aos procuradores

Atualizado em 7 de fevereiro de 2021 às 16:27
Vladimir Netto e Deltan Dallagnol em lançamento de livro deste último

Esta matéria foi atualizada

Vladimir Netto é presença assídua nos diálogos da Lava Jato que vieram à luz.

Ele aparece ajudando Deltan Dallagnol a redigir uma nota sobre a condução coercitiva de Lula — e depois leu-a no Jornal Nacional, onde era o “setorista” da operação.

Dallagnol lhe disse que “ficou boa parte do começo, mas com base em seu olhar tiramos 2 itens inteiros”.

“Fico feliz em ajudar”, respondeu o outro. “Já soltaram a nota? Ainda dá tempo de sair no JN”.

A parceria era fora do Telegram. Vladimir “entrevistou” DD na feira literária de Poços de Caldas em 2017, quando este lançou “A Luta contra a Corrupção” (vídeo no pé deste artigo).

Na leva de conversas liberada por Lewandowski à defesa de Lula e cujo sigilo foi levantado, Deltan informa estar revisando seu livro.

Vladimir enviou email ao DCM, negando que “reconheça” os diálogos e apontando incongruência de datas (leia abaixo).

O filho de Míriam Leitão, vamos lembrar, é autor da hagiografia “Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, que vendeu mais de 200 mil exemplares.

O personagem principal, o ex-juiz, esteve no lançamento na capital do Paraná e posou para as câmeras com Vladimir e a mãe.

No livro, Vladimir se encanta como Moro exibe “rigor e coragem”, conduz tudo “com maestria”, “trabalha com afinco em busca de resultados”,  é “um excelente pai”, “trocava fraldas, acordava à noite quando a bebê chorava e cuidava do umbigo da menina.”

É uma proximidade indefensável entre jornalista e fonte e vai contra as regras da própria casa.

O repórter esportivo Mauro Naves, por exemplo, foi demitido por causa de suas ligações com o advogado da modelo que acusou Neymar de estupro.

“Me pegou de surpresa [a demissão]. Eu esperava conseguir um furo. Eu tinha uma fonte e ela me daria a notícia quando acontecesse”, alegou Naves.

William Bonner deu a notícia com a costumeira canastrice.

“Mauro Naves é um profissional excelente, com grandes contribuições ao jornalismo esportivo da Globo. Mas há evidências de que as atitudes dele neste caso contrariaram a expectativa da empresa sobre a conduta de seus jornalistas”, afirmou o apresentador.

A expectativa da emissora em relação a Vladimir Netto, pelo visto, é outra, absolutamente divorciada do ofício de informar seu público com honestidade. 

Se a Justiça mostra que há dois pesos e duas medidas com Lula, por que os Marinhos deveriam tratar seus empregados com equanimidade?

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LEIA A NOTA ENVIADA POR VLADIMIR NETTO AO DCM:

A serem verdadeiros os diálogos, a leitura da íntegra do material divulgado pelo Supremo Tribunal Federal mostra claramente que a data em que a conversa teria ocorrido é 31 de março de 2017 e 2 de abril de 2017. Meu livro foi lançado em maio de 2016, não poderia estar sendo revisado quase um ano depois de publicado. 

Aliás, nunca permitiria a revisão do meu livro por qualquer das partes envolvidas. Também não é verdade que tenha dado consultoria aos procuradores, não reconheço os diálogos, como já disse diversas vezes. 
Conversa de Dallagnol e Vladimir Netto do livro da Vaza Jato