Jornalista que foi preso depois de denunciar Aécio e Andrea Neves comemora absolvição

Atualizado em 25 de agosto de 2018 às 20:02
Carone entre dois de seus algozes, Aécio e Andrea

O jornalista Marco Aurélio Carone relembra, em um breve artigo, como foi alcançado por um esquema de poder opressivo que existiu durante os anos de governo de Aécio Neves e Antonio Anastasia, destinado a silenciar aqueles que eram considerados inimigos e que poderiam atrapalhar as ambições políticas do grupo.

No dia 21 de janeiro de 2014, a polícia invadiu sua casa de manhã bem cedo e o levou, algemado, para a prisão.

Nunca havia sido preso na vida, era filho do ex-prefeito de Belo Horizonte Jorge Carone, cassado pelo Ato Institucional número 2, em 1966, e da ex-deputada federal Nísia Carone.

Sua mãe foi a primeira mulher a representar o povo mineiro no Congresso Nacional. Mas não ficou muito tempo em Brasília. Dois anos depois de tomar posse, foi cassada pelo AI 5.

Marco Aurélio Carone experimentou as dores da perseguição política em 2014, em plena democracia, num prenúncio do que mais tarde ocorreria no restante do Brasil, a partir da Lava Jato.

Sua prisão, que agora se pode interpretar como abusiva, atendeu aos trâmites legais, mas o conteúdo das ações era resultado de distorção grosseira.

Havia um mandado de prisão contra Marco Aurélio Carone em 2014, expedido pela juíza substituta da Segunda Vara Criminal, Maria Isabel Fleck, a partir de solicitação do promotor André Luiz Garcia, de Belo Horizonte.

Havia também um inquérito aberto contra ele, com alegações que se revelaram improcedentes mais tarde.

Hoje, há motivos para acreditar que sua prisão foi em represália à cobertura crítica que fazia dos governos de Aécio e Antonio Anastasia, como se verá no final deste texto.

Leia agora o breve artigo de Carone:

Como não conseguiram impedir minhas denúncias no combate à corrupção que se apoderava do governo de Minas Gerais nos governos tucanos, optaram por me prender sem qualquer culpa formada.

Nove meses depois das eleições de 2014, fui solto por excesso de prazo e só quatro anos depois, em 2018, fui absolvido nos inquéritos que me investigavam pela acusação de lavagem de dinheiro, recebimento de recursos indevidos e obstrução à Justiça.

Tudo indica que o planejamento era, devido à suspensão de meus medicamentos para pressão do coração e diabetes, durante meu período na prisão, levar-me à morte.

Tive a sorte de poucos ao conseguir provar, ainda em vida, minha inocência. Como jornalista, consegui também provar que noticiara a verdade sobre os esquemas de Aécio em Minas.

Presencio hoje, com orgulho, que as denúncias que vinha publicando no Novojornal desde 2008, e que foram o motivo de minha prisão, ganharam enfim as manchetes dos grandes jornais, rádios e televisões.

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Marco Aurélio Carone, filho do ex-prefeito de Belo Horizonte Jorge Carone Filho, era proprietário do site Novojornal, um dos poucos veículos de comunicação que denunciavam os esquemas de corrupção de Aécio Neves, depois confirmados pelo DCM.

Mais tarde, foram confirmados também em investigações do Ministério Público Federal, como desvios na Cidade Administrativa e na CEMIG, central de energia.

Carone fazia dupla com Geraldo Elísio, editor-chefe do site, um dos mais experientes jornalistas mineiros, e juntos, além dos casos CEMIG e da Cidade Administrativa, apontaram a atuação de Andrea Neves, irmã de Aécio, nas operações destinadas a silenciar veículos de comunicação em troca de verba de publicidade.

Carone foi investigado como membro de uma quadrilha que nunca existiu, a que uniria o lobista Nílton Monteiro a jornalistas, com intuito de publicar notícias para extorquir dinheiro de autoridades. As notícias publicadas pelo Novojornal, que tinham como fonte Nílton Monteiro, como a Lista de Furnas, se revelaram verdadeiras.

Em consequência da mesma decisão que autorizou seu encarceramento, em 2014, quando teve início a campanha de Aécio à presidência, o site foi tirado do ar, e os arquivos desapareceram dos servidores. Neles, havia até o registro de uma suposta overdose de Aécio.

Esta é uma das poucas vezes em que, depois que foi absolvido de todas as acusações que geraram sua prisão, Marco Aurélio Carone escreve sobre seu cárcere.

Não é exagero dizer que ele foi um preso político dos tenebrosos anos dos governos de Aécio e Anastasia. Um vítima dos inimigos da liberdade de expressão, que agiam de maneira organizada, conforme investigação da Polícia Civil do Estado, que ainda não terminou.

Um esquema destinado a acobertar a corrupção dos governos tucanos. Esse esquema era como um dragão de sete cabeças. Quatro foram esmagadas, mas três ainda sobrevivem.

Que venham mais textos de Carone.