Jornalistas cobram respeito do governo João Doria. Por Arthur Stabile

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 6:27
Repórter da Ponte Arthur Stabile (à esq.) e fotógrafo do Jornalistas Livres Lucas Martins sofrem revista no ato do MPL | Foto: Rogério de Santis

PUBLICADO NA PONTE JORNALISMO

POR ARTHUR STABILE

Entidades de jornalistas se posicionaram contra o cerceamento de profissionais e as agressões cometidas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob controle do governador João Doria (PSDB), neste início de 2020. A reação surge após casos de violência física e violações impostas à liberdade de imprensa em dois protestos contra o aumento da passagem do transporte públicos, ocorridos nesta semana na cidade de São Paulo.

A PM interferiu no trabalho dos profissionais nos dois atos puxados pelo MPL (Movimento Passe Livre) contra o aumento no valor da passagem do transporte público, de R$ 4,30 para R$ 4,40, ocorridos na terça-feira (7/1) e quinta-feira (9/1). No primeiro ano, o fotojornalista Rodrigo Zaim foi uma das 32 pessoas detidas “para averiguação”, segundo explicou um dos PMs à Ponte. “Ele tem imunidade parlamentar? Por que ele não pode ir para averiguação? É averiguação, porra”, disse o policial.

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o SJSP (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo) repudiaram as ações da PM paulista em nota. “O SJSP e a FENAJ exigem do governo do Estado, comandando por João Doria, o respeito da PM ao exercício profissional dos jornalistas, que têm se tornado alvos de tratamento hostil”, cobraram as entidades. “Infelizmente, o que vemos mais uma vez é a truculência da Polícia Militar no trato dos movimentos sociais e com a imprensa”, declarou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e vice-presidente da Fenaj, Paulo Zocchi, sobre as ações da PM.

Além da prisão de um fotógrafo para averiguação, ainda no primeiro dia de protesto os policiais agrediram jornalistas que estavam identificados como profissionais da imprensa enquanto dispersavam manifestantes na estação Trianon/Masp, da Linha 2-Verde do Metrô. Daniel Arroyo, fotojornalista da Ponte, recebeu ao menos um golpe de cassetete distribuído pela tropa.

O CPJ (Comite para Proteger Jornalistas, na tradução do inglês) condenou o histórico de repressão por parte do braço armado do governo brasileiro. “Todos os anos jornalistas que cobrem protestos no Brasil enfrentam assédio, obstrução e violência nas mãos da polícia e parece que em 2020 não será diferente”, criticou Natalie Southwick, coordenadora do programa nas Américas do Sul e Central.

As violências físicas seguiram no segundo ato, quando o fotógrafo Daniel Teixeira, do jornal O Estado de São Paulo, também levou golpe de cassetete de um PM que viu suas identificações tanto no capacete quanto em seu crachá. Teixeira ainda estava com sua câmera fotográfica em mãos. Já um fotógrafo independente foi atingido por uma bomba de gás, que bateu em suas costas e explodiu no chão, sem feri-lo.

Antes mesmo de o segundo ato começar, a PM revistou quatro jornalistas que registravam duas abordagens de manifestantes antifascistas, impedidos de levar uma bandeira com o símbolo antifa para o ato. Repórter da Ponte, Arthur Stabile estava entre os revistados, junto dos fotógrafos Lucas Martins, do Jornalistas Livres, do freelancer Rogério de Santis e de Paulo Guereta, da Agência Photo Premium.

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) criticou o enquadro promovido pelos PMs em busca de “ilícitos”. “Em um país onde o presidente da República [Jair Bolsonaro] faz da liberdade de imprensa e do exercício profissional do jornalismo seus alvos preferenciais, os ‘guardas da esquina’ do governador João Dória sentiram-se empoderados a usar o arbítrio contra os jornalistas que cobriam as manifestações contra o aumento das passagens na cidade de São Paulo”, criticou a associação.

Outra entidade a se manifestar, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) comparou as ações com violações cometidas em 2013, ano no qual manifestações de rua explodiram em São Paulo, bem como a violência por parte da PM.

“A Polícia Militar paulista repete os procedimentos abusivos contra jornalistas em cobertura de manifestações observados desde 2013, ignorando as recomendações do Ministério Público de São Paulo emitidas em 2017 para garantir a segurança de profissionais de imprensa em protestos”, disse a Abraji. “A detenção para averiguação e a agressão a profissionais da imprensa no exercício de suas atividades são graves violações à liberdade de expressão”, prossegue a nota.