Um amigo meu, um dos melhores editores que conheço da geração dos 40 anos, me manda um email sobre uma entrevista minha publicada no boletim Jornalistas & Cia, em que Eduardo Ribeiro e equipe mostram as movimentações nas redações.
Falo na entrevista sobre meus dois livros em feitura, que podem ser acompanhados aqui no Diário.
O que chama a atenção de meu amigo é meu ponto sobre a pouca importância que se dá, na história do jornalismo brasileiro, aos jornalistas em si. É como se os donos fossem os reais protagonistas, e não os jornalistas.
Uma vez fiz uma comparação. Se você fosse contar a história da literatura russa do século XIX destacaria Tolstoi, Dostoeivski, Turgueniev, Pushkin ou os donos das editoras locais?
O livro “Minha Tribo”, neste sentido, vai contra a corrente. Os heróis são, essencialmente, jornalistas. (Bem como os anti-heróis.)
Meu amigo quer saber por que o jornalista é subestimado no Brasil. Bem, uma das razões é que há entre nós jornalistas que não cessam de louvar os empresários ao falar da história da imprensa brasileira.
A Folha é um clássico disso.
Um dia, notei um artigo do bom José Geraldo Couto, em que ele atribuía a Seu Frias um clichê de Milton Friedman – “não existe almoço grátis”. Aproveitei este sinal equivocado de idolatria para dizer o quanto Frias é superestimado na Folha e o quanto grandes jornalistas que passaram por lá como José Reis e Mario Mazzei Guimarães são subestimados.
Couto me mandou uma resposta polida. Disse que, no geral, concordava comigo. E afirmou que de tanto ouvir Frias repetir aquele lugar-comum tomou-o como dele.
Clóvis Rossi é o maior propagador das virtudes divinas de Seu Frias como – a quem apelar? – jornalista. Parece que, a cada vez que se fala na Folha e pedem a Rossi um artigo, ele copia e cola suas declarações bajulatórias e absurdamente exageradas sobre Seu Frias.
Sempre é citado um suposto furo de Frias a respeito de um detalhe da doença de Tancredo Neves. Se isso é furo, não sei como definir as ações do WikiLeaks. Era sabido que Tancredo definhava. Era uma agonia pública. Segundo Rossi, Frias disse que era um tumor.
Ora. Isso, se é furo, é um furo de rodapé.
Frias era dono de granja quando comprou a Folha no início dos anos 60 em busca do prestígio que os ovos e as galinhas não lhe davam.
Conseguiu.
O que não dá é para transformá-lo em jornalista, em repórter.
O método mais simples para ver quem é quem é o seguinte: bons jornalistas escreveram e escrevem muitas matérias em que o conteúdo relevante é destacado por uma prosa rica.
O resto é o silêncio.
Que matérias Frias escreveu?
A mesma triagem serve para outro empresário do ramo, o jornalista Roberto Marinho. Existem dúvidas sérias sobre se ele seria capaz de articular um texto pequeno e simples de jornal. Em sua boa biografia, Pedro Bial não desfaz esta dúvida. Roberto Marinho herdou um jornal e fez dele um império. Foi um empresário brilhante. Provavelmente teria feito o mesmo se tivesse herdado uma fábrica de sabonetes ou de salsichas.
Mas jornalista?
Quem acredita nisso, como disse Wellington, acredita em tudo.