Jovem morto por leoa tentou viajar escondido em avião para realizar sonho de fazer safári

Atualizado em 30 de novembro de 2025 às 20:26
Vaqueirinho e sua conselheira tutelar

O rapaz de 19 anos que morreu no domingo (30) depois de entrar no recinto de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, tinha um longo histórico de transtornos psiquiátricos, diversas passagens pela polícia por crimes de baixo potencial ofensivo e chegou a ser internado em centros socioeducativos.

Tinha acompanhamento constante por serviços de proteção social da cidade, com diagnóstico de esquizofrenia.

Conhecido como “Vaqueirinho”, ele esteve sob atenção do Conselho Tutelar por oito anos. Segundo a conselheira Verônica Oliveira, expressava com frequência a vontade de ir para a África para cuidar de leões.

Em determinado momento, tentou entrar no trem de pouso de um avião no Aeroporto Internacional de João Pessoa com essa intenção, mas foi parado pela equipe de segurança.

O primeiro registro do jovem no Conselho ocorreu quando tinha 10 anos, depois de ser localizado sozinho pela Polícia Rodoviária Federal na BR-101. Ainda criança, fora afastado da mãe, também diagnosticada com esquizofrenia, mesma condição da avó materna.

No último dia 24, ele chegou a ser preso duas vezes em menos de uma hora após lançar uma pedra contra uma viatura da Polícia Militar e quebrar caixas eletrônicos. Mesmo assim, foi liberado para tratamento psiquiátrico devido ao agravamento de seu estado clínico.

Veja o depoimento completo da conselheira Verônica Oliveira:

Gerson, meu menino sem juízo… Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões. Você ainda tentou. E eu agradeci a Deus quando o aeroporto me avisou que você tinha cortado a cerca e entrado no trem de pouso de um avião da Gol. Graças a Deus, observaram pelas câmeras que havia um adolescente ali antes que uma tragédia acontecesse.

Foram oito anos acompanhando você, lutando, brigando para garantir seus direitos. Quando entrou na minha sala pela primeira vez, tinha apenas 10 anos. Eu e a conselheira Patrícia Falcão recebemos você das mãos da PRF, encontrado sozinho na BR. Desde então, toda a Rede de Proteção me procurava sempre que algo acontecia com você.

Eu nunca consegui ver você como as redes sociais te pintavam. Eu conheci a criança que foi destituída do poder familiar da mãe, impedido de ser adotado como os outros quatro irmãos. Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó, também com transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões.

 

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.