Jovem, negro e pobre, chicoteado por seguranças de rede de supermercados: estamos de volta ao século XIX

Atualizado em 12 de dezembro de 2019 às 11:08

O jovem que aparece neste vídeo sendo torturado tem 17 anos, é negro e mora na rua. Ele foi chicoteado por seguranças do supermercado Ricoy, na zona Sul de São Paulo, após ser pego na saída do estabelecimento comercial com quatro barras de chocolate que não haviam sido pagas.

O crime aconteceu há cerca de um mês, mas o rapaz não tinha feito a denúncia em razão da ameaça que sofreu: se falasse, seria morto.

Um vídeo postado na internet, provavelmente por um dos torturadores, viralizou, ele foi identificado e ontem compareceu ao 80o. Distrito Policial, em São Paulo.

Ele contou que foi abordado na saída por um segurança de nome Santos, que o levou para uma sala no fundo do supermercado. Santos estava acompanhado de outro segurança, de nome Neto.

A polícia não divulgou o nome completo dos dois, que teriam sido afastados pelo estabelecimento comercial. Eles estão identificados e serão ouvidos pelo DP, provavelmente ainda hoje.

Tortura é crime inafiançável e imprescritível, com pena prevista de 2 a 8 anos de reclusão, com aumento de pena de até um terço se cometido contra criança, adolescente, gestante ou idoso.

O advogado Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, acompanha o caso. “A tortura ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental”, disse ele.

“Acompanharei as investigações e cobrarei a punição dos responsáveis por esses atos bárbaros”, acrescentou.

O Ricoy é uma rede que tem cerca de 50 lojas e, segundo anuncia em seu site, nasceu da sociedade de dois empreendedores, que tinham um lema: “A união faz a força”.

Em nota enviada ao DCM, a rede de supermercados manifestou repugnância pelo ocorrido:

“A empresa repugna esta atitude e foi com indignação que tomou conhecimento dos fatos por intermédio da reportagem. Que a empresa não coaduna com nenhum tipo de ilegalidade e colaborará com as autoridades competentes envolvidas na apuração do caso, a fim de tomar as providências cabíveis.”

Pintura de Jean-Baptiste Debret, feita entre 1816 e 1831