Judeu, professor de Direito Constitucional sai em defesa de Lula

Atualizado em 21 de fevereiro de 2024 às 13:30
Agassiz Almeida Filho e o presidente Lula. Foto: reprodução

O professor Agassiz Almeida Filho, que leciona direito constitucional na Universidade de Coimbra, em Portugal, foi ao X, antigo Twitter, defender a fala do presidente Lula (PT), que comparou o genocídio de palestinos na Faixa de Gaza com o Holocausto.

Nesta quarta-feira, o mestre em ciência política, de origem judaica, afirmou que “finalmente, como líder político de estatura mundial, Lula acerta na sua crítica ao genocídio contra o povo palestino. Seu objetivo era denunciar o genocídio, e conseguiu”. Veja a publicação na íntegra:

É evidente que a fala de Lula iria criar suscetibilidades na comunidade judaica. A perseguição aos judeus é milenar; remonta à invasão dos babilônios no século VI a.C. Meus antepassados, judeus sefarditas, foram expulsos de Portugal em 1496.

O Holocausto, por sua vez, foi um dos momentos mais terríveis da longa trajetória de violências perpetrada pela humanidade durante a história. Representa, entre outros aspectos, o uso da tecnologia mais avançada como instrumento para exterminar seres humanos. Aliás, fato sombrio que persegue a humanidade desde os seus primórdios.

Na academia, evitamos comparações entre fatos como a decadência de Roma e queda de Constantinopla, o surgimento do Império Macedônio e as bases do Império Carolíngio, o Holocausto e o genocídio na Palestina. Há muitos elementos distintos: época, economia, motivação das lideranças, ódio religioso, cenário internacional etc. A precisão e o rigor são (ou deveriam ser) as marcas da produção acadêmica.

Porém, exigir que um discurso político, num momento tão grave quanto o atual, seja como as discussões acadêmicas é simplesmente uma imbecilidade. A Política e a universidade possuem motivações, justificações e objetivos diferentes. A Política tem que convencer.

Além disso, é uma terrível contradição o fato de um governo de Israel, mesmo de extrema-direita, estar empenhado em dizimar um povo. Israel surgiu, basicamente, como uma alternativa aos desastres do Holocausto; como uma espécie de garantia para acolher a Diáspora Judaica.

Toda a comunidade internacional sabe também que o gabinete de Netanyahu estava prestes a cair antes da guerra. Há fortes desconfianças de que a resposta ao Hamas e o próprio genocídio palestino sejam verdadeiros artifícios para Netanyahu se manter no poder e fugir da Justiça.

Finalmente, como líder político de estatura mundial Lula acerta na sua crítica ao genocídio contra o povo palestino. Seu objetivo era denunciar o genocídio, e conseguiu. Expôs a tragédia de forma contundente, mobilizou a comunidade internacional e tirou a roupa do rei.

Sobre os estudiosos de hoje e do futuro cairá a responsabilidade de estudar como se deve caracterizar os genocídios e o modo de compará-los. Não há lugar para suscetibilidades, quando milhares de mulheres e crianças estão sendo dizimadas ao vivo e a cores.

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