Juiz afastado sob acusação de pedir dinheiro a tabeliã apoiou Bolsonaro e atacava o STF, Lula e Dilma nas redes

Atualizado em 2 de setembro de 2019 às 16:47
Postagem do juiz André Fernandes contra Dilma

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu, por unanimidade, afastar do cargo e instaurar processo contra o juiz André Gonçalves Fernandes, da 2ª Vara Cível de Sumaré, até o final da apuração do caso.

A informação é da coluna de Frederico Vasconcelos na Folha.

Fernandes foi acusado de solicitar a uma tabeliã doações de equipamentos para sua vara e dinheiro para uma viagem à Europa, onde comemoraria as bodas de prata com a mulher.

Pois é.

A punição é em nome da “restauração da credibilidade do Poder Judiciário” da cidade.

Segue o artigo:

Fernandes era corregedor do cartório da vara. Ao proferir seu voto, Pinheiro Franco disse que “os próprios delegatários [representantes do cartório], mesmo com risco, relataram na corregedoria o incômodo dos pleitos do magistrado”.

“É flagrante o constrangimento”, afirmou.

O corregedor citou a compra de objetos de uso pessoal para o magistrado. Disse que o juiz deixou com a tabeliã um boleto para pagar um triturador de papel. “Mas nunca apresentou a nota fiscal. Era um boleto, de R$ 3.100 reais, para pagar uma plataforma digital, algum objeto com sofisticação”, disse.

“Houve a solicitação de pagamento de uma viagem particular com a esposa”. Segundo o corregedor, o juiz entrou no cartório, se dirigiu à oficial e disse “você poderia pagar uma viagem para mim e minha esposa?”

“O magistrado nega, diz que não foi à Europa. Mas, indo ou não indo, utilizando ou não o dinheiro, houve infração disciplinar”, disse Pinheiro Franco.

Ainda segundo o relator, há provas com testemunho presencial.

Depois que a tabeliã morreu, o juiz emitiu dois alvarás de levantamento de recursos. O corregedor disse que Fernandes “não tinha nenhuma vinculação com o inventário, não entendi esse interesse especial”.

“Sua excelência pouco ou nada esclareceu, não informou o motivo da expedição de alvará”, disse o corregedor.

Pinheiro Franco disse que, ao instaurar o procedimento, “propôs a alteração da corregedoria permanente para evitar qualquer manifestação do magistrado”.

O presidente Pereira Calças disse que leu o voto do corregedor com muita atenção e examinou as provas produzidas.

“Confesso que, no meu tempo de corregedoria, não vi um caso tão grave como esse. Confesso que fiquei envergonhado.”

“Havia uma coação implícita. Acho que a imagem do tribunal fica maculada”, afirmou o presidente, sustentando a impossibilidade de o magistrado continuar à frente da vara enquanto são apuradas as suspeitas.

Calças lamentou que os fatos envolvam “um juiz de formação na USP, doutor pela Unicamp, há muito tempo na comarca”.

André Gonçalves Fernandes é graduado em direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Mestre e Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp.

O advogado de defesa, Renato Vieira, disse, em sustentação oral, que a imputação de que o juiz teria solicitado a doação de equipamentos “não teria relevância disciplinar, em razão do uso efetivo dos bens para o fórum”. (…)

Antipetista ferrenho, crítico do Supremo Tribunal Federal, olavista e fã de Donald Trump, o magistrado fez campanha para Jair Bolsonaro nas redes sociais.

No dia 3 de outubro de 2018, ele escreveu o seguinte: “Depois de rezar, ontem, pelos mortos, hoje, é hora de sair para fazer um passeio opressor: heteronormativo, patriota, branco, GOP, anti-corrupção, pro life, pro gun, pro Israel, pro DOMA, patriarcal, tri-mundial, cristão e ocidental!”

Cidadão de bem, batata.