Juiz quebra sigilo de mulher que oferece vantagem ilegal a candidatos em troca de apoio a Russomanno

Atualizado em 19 de outubro de 2020 às 20:44
Candidata a vereadora, Ana Cláudia gravou conversa com mulher que ofereceu vantagem em nome de Russomanno e Bolsonaro

O juiz Renato de Abreu Perine, da 2a. Zona Eleitoral de São Paulo, determinou hoje a quebra do sigilo de um número de telefone que está sendo usado para cooptar candidatos a vereador em favor da candidatura de Celso Russomanno.

O caso, em tese, configura abuso de poder econômico, já que, no interesse da candidatura de Russomanno, o usuário dessa linha telefônica oferece material de propaganda aos candidatos a vereador.

Os candidatos procurados não fazem parte da coligação de Russomanno, que tem o Republicanos de Edir Macedo e o PTB de Roberto Jefferson.

A denúncia foi apresentada à justiça pela candidata a vereadora pelo PSL Ana Cláudia Andrade de Souza Graf, que em 2018 ficou nacionalmente conhecida por participar do vídeo em que anunciava ser “Robô de Bolsonaro”.

Conhecida como “Ativista de Direita”, Ana Cláudia rompeu com Bolsonaro depois dos escândalos envolvendo Flávio e também por conta da pandemia, quando o ex-ídolo negou a gravidade da doença.

Em sua denúncia à Justiça Eleitoral, apresentada pelos advogados do PSL, que tem Joice Hasselmann como candidata a prefeita, Ana Cláudia conta que foi procurada por mensagem privada na rede social por uma mulher de nome Carolina Santos.

Ela queria o número de um telefone para lhe fazer uma proposta. No domingo, a mulher telefonou e Ana Cláudia gravou a conversa.

“Eu faço parte do movimento suprapartidário do Celso Russomanno. Eu estou entrando em contato com alguns candidatos para estar oferecendo material de campanha junto com ele e o Bolsonaro”, disse a interlocutora.

A candidata respondeu:

“A mando de quem vocês estão procurando outros candidatos, de outro partido, para entregar material de outro candidato?”

A mulher tentou explicar:

“Eu faço parte do movimento. Então, eu não tenho essa informação.”

Por fim, Ana Cláudia diz que, pelo fato de ter amizade com Bolsonaro (ou ter tido), não faria campanha para candidato de outro partido.

O que a Justiça Eleitoral deve verificar agora é a origem dos recursos para bancar campanhas de candidatos que não têm nenhuma relação com a coligação de Russomanno.

Recursos do Fundo Eleitoral não podem bancar esse tipo de despesa. Sobra como hipótese o uso de caixa 2 em favor de Russomanno.

É um delito grave, que pode levar à cassação do registro de candidatura. No caso, envolve até Bolsonaro, pois a propaganda teria a imagem do candidato, de Russomanno e dele próprio.

A empresa de telefonia tem 48 horas para dar a resposta. O Facebook também foi intimado para apresentar os dados da conta que a mulher usou para se aproximar de Ana Cláudia.

“Prezado Russomanno, eu não estou à venda”, disse a candidata no vídeo postado em sua rede social. Veja o vídeo: