O Washington Post publicou uma reportagem nesta segunda-feira (1º) afirmando que o julgamento de Jair Bolsonaro será um momento de confronto entre o Brasil e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de representar um confronto com o próprio passado autoritário do país.
O julgamento de Bolsonaro e outros sete réus, envolvidos na suposta tentativa de golpe para reverter os resultados das eleições de 2022, começa na terça-feira (2/9), no Supremo Tribunal Federal (STF).
O jornal afirma que esse julgamento “marca uma reviravolta significativa” para o Brasil, que tradicionalmente prefere a conciliação a acusações formais quando se trata de crimes contra o Estado democrático. Segundo o Washington Post, esse processo será o “ápice de uma saga extraordinária” que polarizou ainda mais o país, testou a resistência do Judiciário e ampliou a distância entre o Brasil e os EUA.
O jornal destaca as medidas tomadas por Trump contra o Brasil e o STF, como o “tarifaço” e as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, em retaliação ao que o presidente dos EUA chama de “caça às bruxas política” contra Bolsonaro. Em vez de recuar, o Brasil intensificou a pressão sobre o ex-presidente e seus aliados, com novos indiciamentos contra Bolsonaro e seu filho Eduardo, segundo o Washington Post.
O julgamento de Bolsonaro deve ser “acompanhado de perto por pessoas de todo o país” e pode estabelecer um novo precedente para a responsabilização política, de acordo com especialistas. O Brasil tem um histórico de 14 tentativas de golpe, das quais metade foi bem-sucedida, a maioria envolvendo militares, que começaram em 1889 com a deposição do último monarca brasileiro, um resquício do domínio colonial português.
Sobre o regime militar de 1964, o Washington Post afirma que “o resultado foi repressão generalizada e vigilância governamental descontrolada”, com centenas de mortos e muitos outros torturados ou presos, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade, criada em 2012 para investigar abusos de direitos humanos do regime.
No entanto, ao contrário do Chile ou da Argentina, que também sofreram com regimes militares e processaram seus responsáveis, o Brasil aprovou uma lei de anistia que praticamente tornou impossível processar os responsáveis pelos abusos.
Com a redemocratização, o Brasil aprovou leis para evitar novos golpes, como os do passado. Essas leis, que restringem o discurso antidemocrático e criminalizam conspirações contra o Estado, são a base das acusações contra Bolsonaro e seus supostos conspiradores. O jornal observa que a aplicação dessas leis também gerou uma reação da direita internacional, com críticas, especialmente de Trump, e outros líderes da direita global, que acusam o Judiciário brasileiro de censura ilegal.
O Washington Post conclui que, independentemente do resultado do julgamento de Bolsonaro, a direita radical continuará sendo uma “força expressiva” no Brasil.