O caso do goleiro Bruno segue dando pano pra manga.
Se fosse nos tempos em que as mulheres tinham menos voz, talvez ele já tivesse sido recontratado pelo próprio flamengo – vide Pelé e Garrincha, cujos episódios de violência doméstica nunca atrapalharam num milímetro sequer suas carreiras (é claro que poucos episódios são comparáveis a esquartejar a mãe do próprio filho e jogar seus restos mortais aos cachorros, mas o patriarcado – e o mercado futebolístico – claramente não se importam em proteger espancadores ou autores de feminicídios bárbaros, sem distinção de artigo no código penal).
Influenciada por Jéssica Senra – a jornalista baiana que viralizou ao falar sobre o caso – a atriz Juliana Paes também engrossou o coro contra a contratação do goleiro esquartejador de mulheres.
Ela lançou a tag “Meu ídolo não é feminicida”, e declarou-se, enfim, “defensora da causa da violência contra a mulher” (nesse caso, talvez fosse mais adequado dizer “defensora da causa feminista” ou “militante pelo combate à violência contra a mulher” – desculpem por acreditar tão firmememente que a nomenclatura importa).
Todo mundo quer uma causa pra chamar de sua – e que bom por isso, e tomara que cada vez mais mulheres escolham a causa feminista, seja qual for a vertente, como bandeira, mas o fato é que Juliana Paes – que certamente não está sozinha nessa – demorou a acordar.
Em 2019, declarou-se “contra o politicamente correto” e disse que não boicotaria o governo Bolsonaro.
“Torço para que o país dê certo independente de quem esteja em Brasília; Não bato palma para tudo que o presidente Jair Bolsonaro diz, mas vamos apoiar já que ele está lá. Não vou boicotar. Essa polarização é boba”, disse ao Globo.
Bem, talvez agora ela tenha se dado conta – ou não, nunca se pode duvidar da incapacidade humana de fazer correlações simples… – de que levantar-se contra o governo Bolsonaro é levantar-se contra a violência de gênero, e uma coisa não existe sem a outra.
Primeiro porque Bolsonaro é a figura da misoginia encarnada; segundo porque seu governo é feito de cidadãos de bem que eventualmente violentam e esquartejam mulheres.
Torço para que Juliana – e outras tantas que se abstiveram no fatídico #EleNão – compreendam que não dá pra lutar pela causa da mulher sem lutar contra Bolsonaro, ou ao menos não se você for uma mulher brasileira.
Que a iniciativa de Juliana – e de Jéssica, e de tantas Marias – nos sirva de inspiração principalmente para pensarmos que toda a nossa existência é política, e qualquer apatia em tempos obscuros é suicídio