Jun Matsui e sua fabulosa fábrica de tatuagens

Ser tatuador talvez seja a mais ingrata das formas de arte. Ela parece quase anti-criativa. O cliente, em geral, chega com o desenho de seus sonhos já pronto. O artista tem que aplicá-lo no seu corpo. Não tem Control+Z. Errou, fica o erro para sempre, a não ser que você cubra.

Dentro desse universo menos criativo do que se poderia esperar, existe um brasileiro de família japonesa que trabalha de forma completamente oposta. Jun Matsui.

Eu fiquei conhecendo o trabalho do artista há alguns anos através da maravilhosa revista Zupi. Na época, ele vivia entre São Paulo e Tokio, dizia a revista. Hoje, não sei. Não encontrei muita coisa sobre ele – não muita coisa biográfica. Tem muita foto.

Matsui tem uma assinatura única. É mais ou menos como a guitarra de Keith Richards. Você sabe que o trabalho é dele. Tanto é que, ao ver um amigo meu com uma tatuagem sua, matei na hora. “É Jun Matsui?” Ele confirmou. Eu apenas tinha visto seu trabalho naquela revista alguns anos atrás. Foi tão marcante que eu não esqueci nem do nome. Estávamos no Ritz, restaurante no bairro dos Jardins em São Paulo. Durante o almoço, ele me contou o processo do artista.

Matsui trabalha à mão livre. Desenhou, nesse caso, no braço. Assim, Jun segue harmonicamente os contornos do corpo. Mas ele não desenha diretamente com a agulha. Antes, faz uns contornos com uma caneta. É um processo de vários dias. Você vai, fotografa, volta, faz um pouco mais, fotografa de novo, mais um pouco e mais um pouquinho. Aí fica pronto.

Mas não é isso que faz sua obra ser especial. Na verdade, tatuagem free-hand não é novidade nenhuma. O editor do El Hombre, cuja redação fica aqui do lado, tem uma que foi feita assim no Tattoo You, em São Paulo. Linda, uma fênix. Mas não é um Matsui.

O que seu trabalho tem de especial, para mim, é a mistura talvez perfeita de beleza estética, intuição, originalidade e, no caso da tatuagem, harmonia com o corpo. Não é um desenho no corpo. É um desenho que faz parte do corpo.

 

Ruivo

Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ

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