Juntas: quem são as sem-teto que querem um lugar na Câmara de SP para a periferia

Atualizado em 21 de setembro de 2020 às 18:07
Juntas: quem são as sem-teto que querem um lugar na Câmara de SP para a periferia. Foto: Divulgação

Há mais de 20 anos na luta por moradia e dignidade, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) agora tem uma candidatura coletiva para representá-lo na corrida para a vereança em São Paulo: as Juntas – Mulheres Sem-Teto. Formada por Jussara Basso, Débora Lima e Valdirene Cardoso (Tuca), três lideranças forjadas no próprio movimento, a chapa quer trazer a periferia para o centro em seu mandato, amplificando as tantas conquistas resultantes da luta nos últimos anos.

A chapa coletiva Juntas – Mulheres Sem-Teto é uma representação do trabalho coletivo que o MTST desenvolve nas comunidades, favelas e periferias da cidade. Com um formato inovador, a chapa coletiva pretende ser uma nova forma de representação política, inovando e aproximando a atividade política do povo. Essa nova tecnologia apresentada pelo MTST na eleição de 2020 traz também uma nova proposta de relação com a representação, não apenas no formato coletivo, mas

também no funcionamento e operacionalização da política com a proposta de fóruns abertos de participação popular no mandato, formas virtuais e presenciais de colaboração e transparência da atuação da chapa coletiva.

Para além da reivindicação por moradia digna, condição estabelecida pela Constituição e reforçada pelo MTST, as Juntas – Mulheres Sem-Teto querem ser as representantes, na Câmara Municipal, das mulheres periféricas negras, historicamente marginalizadas pelo sistema. Estão no centro das pautas abordadas pela candidatura a disputa por um orçamento descentralizado, que considere as desigualdades da cidade de São Paulo, garantindo participação popular nas decisões e mais investimento nas periferias da cidade para a realização de uma educação libertadora e de qualidade; um sistema de saúde digno; o combate à violência contra a população negra periférica; a luta por melhorias no transporte público e por uma cidade segura para as mulheres; entre outras pautas.

Jussara Basso é militante pelos direitos das mulheres e poetisa. Trabalha desde os 14 anos de idade, é mãe solo e ingressou no movimento sem-teto em 2012, por meio da ocupação do Novo Pinheirinho, em Embu das Artes (SP), e ajuda a construí-lo desde então, com grandes ações e conquistas. Uma das fundadoras do Coletivo de Mulheres do MTST, atualmente reside na zona sul de São Paulo, onde coordena a comunidade Vila Nova Palestina, uma das maiores ocupações do Brasil, que abriga mais de 2 mil famílias há sete anos (Jussara já apresentou a ocupação em vídeo ). A candidata ainda é colunista da Mídia Ninja. Além de construir o MTST e coordenar as ocupações, faz as negociações com o poder público para a resolução das moradias das famílias da comunidade e participa da formação interna com o povo. É uma liderança importante no fundão do Jardim Ângela, sendo uma referência no movimento de cultura periférica, da luta pela duplicação da M’Boi Mirim, da luta pelo transporte de qualidade e uma das organizadoras do Levante da Periferia, que organiza a luta do 20 de Novembro na periferia da cidade.

Já Débora Lima, que atualmente coordena ocupações em algumas regiões de São Paulo, em especial a comunidade Marielle Vive, ingressou no movimento sem-teto também em 2012. Mãe, preta, bissexual e professora, teve trajetória de luta que transferiu para a resistência dos sem-teto. Organiza o coletivo LGBT Sem Medo, que reúne diversos coletivos LGBTs e é fundadora do “Coletivo LGBT Sem Teto”, um grupo que organiza a luta LGBT dentro do MTST e nas comunidades periféricas.

Vinda de Itaquera, zona leste de São Paulo, Tuca também cresceu em meio à pobreza e ao descaso do poder público. Trabalhadora, encontrou no MTST uma casa na qual poderia lutar pelos próprios direitos e pelo dos outros. É o que fez em ocupações como o Dandara , uma grande vitória do movimento que garantiu a construção de prédios para moradia em um terreno abandonado. Firme na coordenação e na construção do movimento, Tuca vê no investimento nos jovens a força para o levante da periferia e a conquista de novos direitos. Ingressou no MTST

em 2014, na ocupação Copa do Povo e hoje é a maior liderança do movimento na região. Uma das fundadoras do Coletivo Negro do MTST, Tuca considera a luta antirracista fundamental para a construção de uma cidade verdadeiramente democrática.

“Somos três mulheres pretas, periféricas, feministas, que já conquistaram muito para o nosso povo sem um mandato público, e é por isso que queremos ir além. Não se trata de poder, mas de ocuparmos um espaço que representa o povo paulistano, concentrado em sua maioria nas periferias. Nós sentimos na pele a dura luta por moradia, por ter necessidades básicas, direitos respeitados, e sabemos o caminho para alcançar isso. A luta institucional não é fácil, mas somos mulheres preparadas, cujas propostas serão construídas coletivamente e com a força de nosso movimento”, afirma Jussara.

A candidatura coletiva concorrerá sob a legenda do PSOL (50), partido vinculado ao MTST também na chapa para a Prefeitura de São Paulo, representada por Guilherme Boulos e Luiza Erundina.