Justiça absolve os 18 do Centro Cultural São Paulo. Por Mauro Donato

Atualizado em 23 de outubro de 2018 às 0:56
Os manifestantes com o capitão do Exército infiltrado, Balta Nunes

Na tarde desta segunda-feira (22) chegou aquela queprovavelmente, seja a última boa notícia do ano.

Os 18 jovens que haviam caído na arapuca armada pelo capitão do exército Willian Pina Botelho (vulgo – e bota vulgar nisso – Balta Nunes) foram absolvidos. A juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal do Fórum Criminal da Barra Funda, inocentou-os por falta de provas.

O grupo, que posteriormente ficou conhecido como ‘os 18 do CCSP’, foi preso no dia 4 de setembro de 2016 em frente ao Centro Cultural São Paulo quando se preparava para participar de um ato Fora Temer (algo que deveria ser obrigatório no currículo escolar, vamos combinar)Todos muito jovens  havia menores de idade inclusive – que não tinham feito absolutamente nada além de exercer um direito previsto na Constituição Federal.

Reunidos por sugestão do militar infiltrado, foram surpreendidos por uma operação cinematográfica, com helicópteros e diversas viaturas, antes mesmo da manifestação começar. A partir daí sofreram todo tipo de irregularidades que alguém possa imaginar. Meninas foram levadas para o banheiro do metrô e obrigadas a ficarem nuas. Meninos tiveram “provas” forjadas em suas mochilas.

Levados para o DEIC, os jovens permaneceram ‘desaparecidos’ por várias horas. O delegado tomou os depoimentos sem permitir que pais nem advogados tivessem acesso a eles. Algo totalmente irregular. Foi preciso uma carteirada – já no meio da madrugada – do deputado Paulo Teixeira e de Eduardo Suplicy para que os advogados entrassem.

Poderia ser meu filho, poderia ser sua filhapoderia ser você mesmo, leitor. A experiência foi de tal monta grotesca, que pegaram quem nem mesmo ia participar do protesto. Afinal ali é um centro cultural que possui uma respeitável biblioteca. Um dos jovens não conhecia ninguém do grupo e ali estava para estudar e usar o Wifido espaço. Ganhou este apelido e um processo assustador nas costas.

Todo o caso foi uma aberração, uma armadilha covarde de um capitão do exército que xavecava as meninas no Tinder, posava de marxista, ganhou a confiança de meninos muito jovens e que depois desapareceu. Quando questionado pelos advogados de defesa dos jovens, um dos policiais reconheceu que o capitão estava com o grupo, mas não o deteve “porque ele estava vestido de forma diferente”.

Balta Nunes não desapareceu apenas das vistas dos meninos. Ele nunca constou nos autos do processo. Para ouvi-lo, a defesa o arrolou como testemunha, mas foi uma canseira imensa coletar seu depoimento. Depois de toda a patacoada, ele foi promovido e transferido. Deu um testemunho via vídeo conferência.

Agora, dois anos depois, a artimanha sórdida de autoridades inescrupulosas não vingou. ‘Justiça tarda, mas não falha’.

Justiça que tarda já é falha. Esse período de espera (com uma derrota em primeira instância) foi de total desfacelamento emocional e estrutural de muitas famílias. Pais e mães perderam seus empregos, alguns jovens foram expulsos das escolas e não puderam mais estudar por não serem aceitos em outras. Vários adquiriram distúrbios como síndrome do pânico. Pelo menos uma delas foi expulsa de casa. Praticamente todos passaram por momentos de terror psicológico intenso durante quase 700 dias. Viaturas ficavam rondando suas casas dia e noite.

A cada audiência no Fórum, um esquema desnecessário e teatral de blindados e tropas imensas fortemente armadas no portão. Para 18 jovens recém saídos da adolescência que nada haviam feito.

absolvição era a única decisão correta a ser tomada, embora tudo o que aconteceu já seja de uma injustiça e de uma arbitrariedade indescritíveisO episódio nefasto terá de consequências ainda a conferir. Quem irá reparar o estrago que feito na vida de tanta gente inocente e em fase de formação? Mas a sentença saiu na hora certa. Sabe-se lá o que seria desse caso (e dos próximos) caso estejamossob um governo que já declarou estar disposto a “acabar com todo tipo de ativismo e que deseja enquadrar os movimentos sociais como terroristas.