Kakay: “Moro é desprezado nos tribunais. Se eu fosse advogado dele, diria para torcer para perder o mandato”

Jurista também falou sobre a situação dos amigos lavajatistas de Moro

Atualizado em 19 de janeiro de 2024 às 9:59
Kakay. Foto: Reprodução/DCMTV
Kakay. Foto: Reprodução/DCMTV

Um dos maiores criminalistas do Brasil, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, concedeu uma entrevista ao DCMTV sobre suas conversas com Tony Garcia. O empresário e ex-deputado foi pivô do inquérito aberto contra o ex-juiz e senador Sergio Moro.

Garcia diz que foi “espião” do então juiz na época do Banestado e realizou grampos ilegais. Para Kakay, quem abriu espaço para que Tony Garcia fosse ouvido no inquérito do ministro Dias Toffoli foi a ação do ex-titular da Vara de Curitiba, Eduardo Appio, que foi afastado quando tentou revisar os processos ligados à Lava Jato.

Veja os principais trechos da entrevista.

Questões estarrecedoras sobre o ‘espião do Moro’

Em primeiro lugar é bom contextualizar: advoguei desde o primeiro dia da Lava Jato, em março de 2014. Eu era advogado do Alberto Youssef. Os procuradores obrigaram ele a desistir do habeas corpus, senão iriam recrudescer com ele.

Fiquei estarrecido. Obrigar alguém a abrir mão do processo de liberdade foi grave. Vi que eles estavam instrumentalizando o processo. Através dessa ação dos procuradores e do juiz, eu comecei a correr o Brasil e fui pegando informações.

O caso do Tony Garcia é muito impressionante. Quando ele me procurou pela primeira vez, Tony queria que eu fosse advogado dele. Disse que não advogaria porque ele é delator.

Tony Garcia falou da filha do Zé Dirceu, falou de uma série de pessoas com quem eu tenho relação. Mas quis ouvi-lo. Tony me contou questões que são estarrecedoras.

Disse que, no meu ponto de vista, ele deveria procurar o Supremo Tribunal Federal.

Uma determinação nesse inquérito que foi aberto contra o Moro é que algumas questões relativas ao Tony Garcia fossem ao Supremo e simplesmente a Justiça Federal do Paraná não cumpre. É algo estarrecedor e nós não podemos esquecer que tudo isso está vindo à tona.

O doutor [Eduardo] Appio, quando era o titular da 13ª Vara de Curitiba, começou a abrir os porões. Foi ele que chegou a dar visibilidade a essa delação do Tony Garcia.

O Tony chegou a levar isso para a juíza Gabriela Hardt. E nada foi feito.

Temos que entender o tamanho desse imbróglio quando o doutor Appio teve a coragem de começar a abrir os porões ali da 13ª Vara. Por isso imediatamente tiraram ele de lá.

Moro é o principal interessado em conter essa investigação, porque ele sabe o que ele fez no verão passado. É importantíssimo que a gente tenha a noção agora. Nós não estamos falando simplesmente da denúncia de um delator arrependido.

Nós estamos falando de uma manifestação do Ministério Público, de uma manifestação da Polícia Federal, quando o processo chegou lá no Supremo Tribunal Federal.

A história do Tony Garcia dá um livro, dá um filme. Sou advogado criminal e existe um pedido da Procuradoria-Geral da República baseado numa pré-investigação da Polícia Federal que diz que há elementos para abrir o inquérito.

Não é só o Moro que está sendo investigado. É a esposa dele que é deputada federal, além daquela trinca de indigentes intelectuais lá. Os procuradores da República Deltan [Dallagnol], Carlos [Fernando Santos Lima] e vários outros. Tem aquele advogado Zucolotto [amigo de Moro e ex-sócio da mulher dele, Rosângela].

Tem ligações com o caso Taclan Duran. É uma investigação ampla. Não é nenhuma leviandade falar isso. Há vários possíveis crimes como concussão, organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude processual.

Ou seja, é uma investigação seriíssima que o Ministério Público Federal encampou. É a investigação e a Polícia Federal que é muito técnica, coordenada pelo doutor Andrei [Rodrigues].

O inferno das pessoas que podem pedir anulação de delações

Faço advocacia, até no Supremo Tribunal, há mais de 40 anos. O Moro não tem nenhuma respeitabilidade mais a ser preservada. Convivo com ministro de tribunal e existe um solene desprezo por ele. As pessoas sabem o que ele fez.

Quando você vê um julgamento do plenário, comparando com as atitudes de parte da dessa Força Tarefa de Curitiba, se enxerga a gravidade do que foi feito e a corrosão na credibilidade desse ex-juiz. Ele tá entre a cruz e a espada.

Tudo indica que Moro vai perder o mandato de senador. Se eu fosse advogado dele, e jamais eu serei, diria para ele torcer para perder o mandato. Se acontecer isso, o processo iria para a primeira instância. E, se ele não fizer nada que influa, Sergio Moro não vai preso agora.

Vai ter um processo grande e ele ainda tem certamente alguns poucos companheiros de tribunal.

São questões muito delicadas. A esposa dele também, pelo que consta na manifestação do Ministério Público, é investigada. Rosângela Moro não tem um processo contra ela que eu saiba para cassação de mandato.

Deixo aqui novamente uma pergunta: por que tiraram Appio da 13ª Vara de Curitiba?

Appio voltou agora para uma vara previdenciária do Judiciário. Ele deveria voltar para poder exercer o papel independente que tinha no Paraná. Acho que isso vai ficar cada vez mais evidente.

Essa questão do Tony Garcia só veio à tona porque o Appio teve a coragem e a independência de abrir essas delações antigas. Olha o despacho do ministro Toffoli de 19 de dezembro. No outro dia começou o recesso Judiciário 

Vamos com calma. Por isso orientei para o Tony Garcia: se segura um pouco. Você já fez o trabalho que tinha que fazer. Deixa agora a Polícia Federal entrar em campo. Deixa o Ministério Público entrar em campo.

O ministro Toffoli, ao que tudo indica, colocou um juiz auxiliar de quem todo mundo fala muito bem. Essa investigação está no Supremo Tribunal Federal.

Preferia agora que as coisas ficassem um pouco mais amenas. Fui procurado por outros empresários que disseram: Kakay, como é que eu faço agora? Peço anulação da delação?

Cada caso é um caso. Respondi: Você tem prova de que você foi forçado a delatar? Você está disposto a fazer esse enfrentamento?

Esse cliente que me procurou que é uma pessoa importantíssima nesse contexto todo da Lava Jato. Ele pagou R$ 120 milhões, além de sofrer prisão e de ser pressionado.

Tony Garcia fala desse assunto há bastante tempo, mas a partir do momento que abriu a inquérito junto ao Supremo Tribunal Federal, vamos devagar com andor.

Vamos deixar as questões técnicas evoluírem.

Pelos critérios da Lava Jato, Moro e Dallagnol já teriam sido presos

Quando eu fiz ação direta de constitucionalidade, nós vimos mais duas ações que redundou na liberdade do presidente Lula.

Nós ganhamos a questão que libertou o Lula. Pessoas ligadas ao Moro vieram me dizer que ele disse que era a maior derrota da vida profissional deles.

Hoje eu imagino que o Moro deva estar feliz da vida. Porque, nos termos do Supremo, isso vai propiciar que, se condenado, Moro seja recolhido apenas após o trânsito de julgado.

Se processo fosse no padrão Moro, Deltan, Carlos Fernando e tal, não tenho nenhuma dúvida de que eles teriam que pedir a prisão deles mesmos.

Veja a live na íntegra.

Participe de nosso grupo no WhatsApp,clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram,clique neste link