Kassab manda PSD coletar assinaturas para Bolsonaro em troca de apoio a Andrea Matarazzo em SP. Por José Cássio

Atualizado em 30 de janeiro de 2020 às 18:17
O ex-ministro, acusado de corrupção, em visita de cortesia no Palácio do Planalto (Imagem: reprodução)

Nesta semana, sem que muitos percebessem, o DNA político do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, surgiu na longínqua Manaus.

É da capital do Amazonas que Josué Neto, presidente da Assembleia, pilota o esquema de coleta de assinaturas para a criação do novo partido de Jair Bolsonaro.

Aliado de Kassab, membro do PSD, o deputado estadual diz que a ideia é alcançar pelo menos 5 mil assinaturas até março.

“O Amazonas, dentro da lei eleitoral, precisa atingir 4.900, e já contribuiu com 3 mil”, disse num ato público realizado neste último fim de semana.

Josué não vê constrangimento em pertencer a um partido e trabalhar pela criação de outro.

Ao contrário, para ele o que vale é que os eventos que vem realizando estão acontecendo “com uma grande e ampla participação da sociedade, que aprova as políticas econômicas e a manutenção e conservação dos bons costumes, principalmente do fortalecimento da família”.

Por trás de iniciativas como a do presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas está o interesse de Kassab em obter o apoio de Bolsonaro aos candidatos do PSD nas eleições deste ano, já que o Aliança Brasil não conseguirá se formalizar a tempo de disputar.

Kassab reassumiu o comando do PSD, que criou em 2011 e hoje tem a quarta maior bancada da Câmara, no segundo semestre do ano passado.

Seis meses antes, em janeiro, evitou tomar posse como secretário da Casa Civil de João Doria por ter sido alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal.

Mas ainda permanece vinculado ao governo do tucano como “secretário licenciado” e tutor do correligionário Antonio Carlos Malufe, indicado no seu lugar.

Para as eleições, o ex-prefeito diz que tem um plano ousado para o PSD: quer candidaturas majoritárias em todas as cidades, com destaque para São Paulo, onde trabalha para tornar o ex-tucano Andrea Matarazzo representante do bolsonarismo no campo da direita.

Nos bastidores, Matarazzo já começou a se movimentar.

Está chamando candidatos a vereador para formar uma grande chapa parlamentar e ajustando o discurso para tornar-se palatável ao clã presidencial.

Oficialmente, Kassab encontrou-se com Bolsonaro no final de 2019 em uma visita de cortesia no Alvorada, quando justificou o apoio da bancada do PSD ao governo. “Tem uma agenda econômica compatível com a nossa. Essa é a razão de votos da bancada”.

O ex-ministro de Dilma e Temer – de dentro do governo, tramou o golpe contra Dilma em 2016, numa manobra inacreditável – acompanha à distância a investigação contra ele iniciada com o acordo de colaboração da J&F com a Justiça – Kassab teria recebido da empresa uma mesada de R$ 350 mil de 2010 a 2016, totalizando R$ 30 milhões.

Ele sempre negou as acusações, como certamente vai negar que tenha orientado o deputado estadual do Amazonas a coletar assinaturas para a criação do Aliança ou a utilização de Andrea Matarazzo para repetir o discurso de ódio e obscurantista do clã Bolsonaro na principal cidade do país.